Um relatório da Alliance Bernstein publicado hoje jogou luz sobre mais um setor que pode ser chacoalhado pela Amazon: os meios de pagamento.
Para a analista Lisa Ellis, Jeff Bezos pode criar sua própria versão do PayPal, assim como a Alibaba fez com o Alipay.
Segundo a Bloomberg, que destacou o relatório, a Amazon já preocupa empresas como Visa, Mastercard e a própria PayPal por ter lançado um programa de fidelidade e por estar colocando botões de checkout nos sites de outros varejistas.
A analista — que recentemente fez uma conference call com clientes para discutir o ‘risco Amazon’ — convida os investidores a imaginar um cenário em que os consumidores comecem a guardar dinheiro em sua conta na Amazon Pay, em vez das contas bancárias que alimentam os arranjos de pagamento liderados pelas bandeiras de cartão de crédito como Visa, Mastercard e American Express.
Para ela, a Amazon parece estar indo nesta direção ao colocar seus ‘checkout buttons’ em sites de terceiros e ao dar 2% de ‘cash back’ aos membros da Amazon Prime quando eles usam cartão de débito para colocar dinheiro num ‘gift card’.
“Devemos dizer desde já que a Amazon tem demonstrado pouca intenção de tentar ‘disrupt’ a Visa e Mastercard; pelo contrário, a Amazon tem parceria com a Visa (e o JP Morgan Chase) no seu cartão de ‘co-brand’.”
“No entanto, existem muitas razões para se preocupar com a ‘disruption’ da Amazon nos meios de pagamentos: o enorme tamanho da Amazon (mais de US$ 250 bilhões em GMV; 2-3% do volume global de pagamentos de cartões); sua base atual de usuários e varejistas (mais de 2 milhões de comerciantes e mais de 300 milhões de usuários ativos); a tração do Amazon Pay; as capacidades tecnológicas formidáveis da AWS [Amazon Web Services], e o histórico de sucesso de outras plataformas de ecommerce em criar empresas de pagamento (eBay-PayPal, Alibaba-AliPay, Tencent-Tenpay),” escreveu a analista.
Para ela, “a Amazon apresenta um risco real, embora de longo prazo, para Visa, Mastercard e PayPal. Para Visa e Mastercard, no mínimo, a Amazon traz o risco de tirar o brilho da marca (qual cartão você armazenou na sua carteira da Amazon?) e pressão de preços. Para o PayPal, no mínimo, a Amazon reduz o seu mercado endereçável (não há um botão do PayPal na Amazon).”
“O risco bem maior para os três, no entanto, é se a Amazon decidir ‘criar seu próprio PayPal’. Como o PayPal e a AliPay — construídos pela eBay e Alibaba — possuem valores de mercado de mais de US$ 60 bilhões, por que a Amazon não ia querer uma dessas?” [Nota do BJ: O IPO da Ant Financial, operadora do Alipay, foi adiado para o ano que vem, mas a empresa teve um valuation de US$60 bi em sua última rodada de investimento em abril do ano passado.]
Apesar do ‘risco Amazon’, Ellis tem uma recomendação de compra para as ações da Visa, Mastercard e PayPal.
Um investidor que leu o relatório diz que tudo o que a analista descreve como possibilidade já está acontecendo, e que o risco às bandeiras é real. “Não é o caso de discutir se a Amazon vai ‘disrupt’ os adquirentes ou as bandeiras. Quando as pessoas passarem a manter saldos no Amazon Pay, a Amazon vai estar desintermediando todo mundo. O futuro é a Amazon ficar com o ‘merchant discount rate’ [MDR, a taxa paga pelos lojistas ao banco emissor, adquirente e bandeira] para ela mesma. Para uma empresa que tem margem líquida na casa de 2%, apropriar-se do MDR equivale a lucro na veia.”
Há anos, a Amazon já oferece aos clientes Prime um cartão de crédito sem bandeira, o Amazon Store Card, emitido pelo Synchrony Bank (um banco focado em B2B) e que dá 5% de desconto nas compras; o cartão só pode ser usado dentro do site. Impressionantes 63% das famílias americanas já têm algum membro que assina o serviço Amazon Prime — só 49% têm uma linha de telefone fixo.