1989:

“Covas não é mesmo pelo livre mercado, e esse discurso de ‘choque de capitalismo’ é papo furado de cristão novo. Paulista demais, sem chance.  Por isso, liberal de verdade vai de Afif.  Cara do comércio.  Businessman.  Privatizador puro sangue é só ele, veja seu programa (curiosidade: escrito por Paulo Guedes).

Daria também para votar no Caiado, um goiano inteligente, focado, capaz e que também tocou negócios de verdade.  Ele sabe como é a realidade de pagar salários e impostos.  Mas não vai dar, porque o Caiado 10144 6c32d323 f377 206a 0000 7dad5cba8243não tem apelo nacional e popular e não tem nenhuma chance real.  Aliás, fala baixo que também tem essa conexão íntima demais com o pessoal do gado.

Está duríssimo isso tudo, ninguém parece mesmo ter momentum — exceto, sei lá, esse cabra macho que está aparecendo demais nessas eleições! Se precisar talvez tenha que ir de Collor mesmo.  Outsider, arrebatador, promete acabar com as velhas instituições e os marajás pendurados no governo. Macho.  Meio alucinado, talvez, mas um choque desses é o que Brasil precisa.

Quem sabe eu tenha que ir ‘delle’ mesmo porque olha o risco do PT aí, e todo mundo ter que ir embora porque mais quatro anos dessa bagunça ninguém mais aguenta…   Mario Amato até falou.  E mais: tem o risco de não sendo o PT, ser o Brizola, aquele outro maluco boquirroto imprevisível.  Talvez seja pior ainda.” 

 

 

2018:

Vale a pena ver de novo?  O Brasil teria sido melhor com Covas, ou aquele segundo turno entre Lula e Collor, afinal?  

A quem serviu lançar dúvidas contra os discursos de Covas pela redução do Estado e pela prudência fiscal?  A qual projeto foi útil chamá-lo de paulistão que não sabe nada do Nordeste?  Lembro-me bem disso tudo porque era recém formado e trabalhava no Grupo Itaú.  
 
Grandes varejistas desmereciam Covas para cantar as virtudes do liberalismo autêntico de Afif Domingos.  Muito empresário e banqueiro abraçou o Caçador de Marajás quando a ameaça do Sapo Barbudo ou até do Caudilho dos Pampas virou um pesadelo com contornos de realidade.
 
E foi assim que nos desfizemos do mais preparado, do mais construtivo, do mais maduro e equilibrado, sublinhando seus defeitos preferidos aqui e acolá… até que chegamos onde terminamos.  Para, depois de morto, alçarmos o mesmo Covas às alturas da maior consideração — “ele sim, um político com P maiúsculo como hoje não se faz mais.”
 
Já se passaram quase 30 anos.  Está na hora de cobrarmos de nós mesmos mais maturidade para esse debate.  Eu votarei em Geraldo Alckmin por convicção em suas competências comprovadas, por sua serenidade em momentos complicados, por sua prudência política e pela visão de legar um Brasil mais evoluído nesse doloroso processo de construção que estamos atravessando.
 
Sua candidatura é nossa melhor aposta numa democracia plural que gere riquezas através das virtudes do mercado e foque o Estado no provimento dos serviços universais essenciais.  
 
Não será perfeito.  Nem é isso que espero.  Estou votando num candidato a um cargo político, não em um ídolo para adoração inconteste.
 
Paulo Bilyk é sócio-fundador da Rio Bravo Investimentos.  Este artigo reflete sua posição pessoal.