Nem todo casamento dura para sempre.

Quando pagou R$ 6 bilhões por 49% da XP em meados de 2017, o Itaú Unibanco fez um dos melhores negócios da história do sistema financeiro no Brasil.

Não só o banco fez um “hedge” de sua franquia como conseguiu multiplicar seu investimento por 11 em apenas três anos — sem falar na opção para comprar mais 12,5% da corretora em 2022.

Mas agora, com as crescentes diferenças de perfil entre as partes e os conflitos advindos da dupla posição do Itaú — concorrente e acionista — talvez tenha chegado a hora de cada lado seguir seu caminho.

A forma mais inteligente de operacionalizar o divórcio: em vez de vender sua participação na XP no mercado, gerando um imposto sobre ganho de capital brutal, o Itaú poderia fazer o spinoff da posição, dando a cada acionista de ITUB4 um BDR lastreado nas ações da XP. A preços de hoje, um dividendo in kind de mais de R$ 62 bilhões.

A partir daí, cada acionista decidiria por si só se deseja manter um pé em cada canoa, e os dois lados se veriam livres do drama dos últimos dias.

Obviamente, todo divórcio tem suas consequências. O downside para a XP: assim como celebrou a chancela do banco quando deu boas-vindas ao Itaú, Guilherme Benchimol não contaria mais com o imprimatur da casa bancária de 95 anos.

Por outro lado, a XP hoje talvez já tenha nome e massa crítica suficientes para atrair clientes sem precisar da chancela.

É intrigante lembrar que — não fosse pela intervenção do BC — o alinhamento entre Benchimol, os Setubal e os Moreira Salles hoje seria quase completo.  No desenho original da transação, o Itaú gradualmente aumentaria sua participação até tomar o controle — pagando múltiplos crescentes por cada nova fatia.

Mas o BC achou too much permitir que um líder da indústria comprasse o player de maior crescimento, e limitou o Itaú nos 49% (diluídos para 46% no IPO) — a opção para comprar mais 12,5% também é sujeita à aprovação, mas, de um jeito ou de outro, os direitos políticos sempre estarão na mão de Benchimol.

Por um tempo, parecia aceitável para o Itaú perder share para a XP em investimentos já que o banco se beneficia de metade do lucro econômico da companhia.  Mas… “isso é uma falácia, porque com o valuation astronômico que uma empresa de high growth consegue no mercado, a partir de dado momento ela tem massa crítica para atacar não só uma ponta do negócio — o lado de investimentos — mas todas as verticais,” resume um observador. “No final, a criatura engole o criador.” 

Para um investidor que assiste à briga de camarote, sem posição em nenhum dos lados, “hoje em dia, o líder incorpora a figura de um pastor, e assim como a Igreja se perpetuou criando a figura do Diabo, o Guilherme cultivou o inimigo na figura do Itaú, dos bancões.”  

Ao contrário do que se imaginava, “a transação entre eles não desmilitarizou a tropa. O pessoal da XP aproveitou a segurança da instituição Itaú para vender proteção e refinar sua imagem, mas foram para cima dos clientes. No fim, tinham a segurança do Itaú com o atendimento e agilidade da XP.  Receita óbvia para ganho de share.” 

De um jeito ou de outro, seguindo sozinho ou ainda de braços dados com a XP, fica claro que a ficha caiu no Itaú, que começou a se mexer. Talvez ainda batendo cabeça e tomando alguns olés, mas já entendendo a importância de controlar sua própria narrativa. 

Neste espírito, para lidar com os novos tempos, Roberto Setúbal talvez pudesse tomar emprestada uma lição de Luiza Helena Trajano. Para aumentar a moral e a autoestima de sua tropa, Luiza um dia colocou em seu cartão: “Luiza Helena, Vendedora.” 

Aguarde-se para breve: “Roberto Setubal, Gerente.” 

NO TÚNEL DO TEMPO….

Por que o Itaú deveria comprar a XP