A Petrobras decidiu iniciar seu processo de transição energética apostando numa das fontes de energia verde mais caras: a energia eólica offshore, em que os aerogeradores ficam no mar, em vez de na terra.
A companhia disse hoje que assinou uma carta de intenções com a norueguesa Equinor para avaliar a viabilidade de construir sete projetos de eólicas offshore na costa brasileira.
Segundo a Petrobras, a capacidade instalada das 7 usinas é de 14,5 GW, o que, segundo especialistas do setor demandaria um capex de US$ 52,2 bi, ou R$ 271 bilhões.
Assumindo um cenário otimista em que a JV seja meio a meio, a Petrobras estará se comprometendo com um capex de US$ 26,1 bi, provavelmente ao longo de vários anos.
Hoje, o Plano Estratégico da Petrobras prevê um capex de US$ 78 bilhões entre 2023 e 2027 – um número que o Governo Lula já disse ser baixo. Deste valor, 80% é para exploração e produção de petróleo (basicamente o pré-sal), deixando US$ 15,6 bi para outras destinações.
As contas dos especialistas foram feitas com base em dados da própria Empresa de Pesquisa Energética (EPE), ligada ao Ministério das Minas e Energia (MME). Segundo a empresa pública federal, o capex de referência para se instalar 1 MW de capacidade de eólicas offshore pode chegar a R$ 18,6 milhões, ou US$ 3,6 milhões no câmbio de hoje.
Para efeito de comparação, o capex de referência para as eólicas onshore (que tem como referência o último leilão de eólicas no País) é de US$ 1,06 milhão – ou seja, 3,4x menor. A geração solar e a biomassa com bagaço de cana tem um capex de referência semelhante às eólicas onshore.
O projeto da Petrobras é ambicioso. Para efeito de comparação, o Brasil tem hoje 23 GW de capacidade de geração de eólicas onshore e outros 23 GW de parques de geração solar.
O investimento nas eólicas offshore será o primeiro grande teste de governança da Petrobras depois dos desvios descobertos pela Lava Jato, e deve ser monitorado não apenas pelo mercado financeiro mas por toda a sociedade.
Os parques que farão parte do acordo são o Aracatu I e II, que ficam na fronteira litorânea do Rio com o Espírito Santo; o Mangara, na costa do Piauí; o Ibitucatu, na costa do Ceará; o Atobá e Ibituassu, no Rio Grande do Sul; e o Colibri, na fronteira litorânea entre o Ceará e o Rio Grande do Norte, onde o CEO da Petrobras, Jean Paul Prates, fez sua carreira política e tem pretensões para o futuro.
A Petrobras disse que o movimento faz parte de sua estratégia de diversificar a receita para fontes renováveis, que consta em seu plano estratégico para os próximos cinco anos.
No plano, a Petrobras disse que pretende investir em três novos segmentos ligados à transição energética: as eólicas offshore, o hidrogênio verde, e a captura de carbono. A companhia disse ainda que pretende se aprofundar no segmento de biorefino, onde ela já tem atuação.
Executivos do setor, no entanto, questionam a opção pelas eólicas offshore em vez das onshore.
“O capex para uma eólica offshore é no mínimo 3 vezes maior que o da onshore,” disse um executivo do setor. “Na Noruega, a falta de terra explica a escolha que eles fizeram. No Brasil, terra é o que não falta…”
No fato relevante publicado agora à tarde, a Petrobras disse que a geração eólica offshore tem algumas vantagens, como “a elevada velocidade e estabilidade dos ventos em alto-mar, livres de interferência de barreiras como rugosidade do solo, florestas, montanhas e construções.”
Em outras palavras, a companhia argumenta que o fator de capacidade tende a ser maior nas eólicas offshore.
Dados da EPE mostram que, de fato, o fator de capacidade das eólicas offshore é um pouco superior, de 32% a 67%, em comparação aos 38% a 47% das onshore. Esta diferença, no entanto, parece longe de compensar o capex 3x maior.