O Pátria Investimentos está adquirindo a operação de private equity da abrdn (a antiga Aberdeen), uma gestora global com sede em Londres que tem mais de £ 500 bilhões em ativos sob gestão.

O movimento faz parte da estratégia do Pátria de expandir seu negócio com produtos globais, um dos três pilares estratégicos de crescimento que a gestora anunciou em seu último investor day. (Os outros são crescer com produtos locais para investidores locais e dar a acesso à América Latina para investidores internacionais.) 

O carveout da abrnd vai adicionar US$ 7,8 bilhões aos ativos sob gestão do Pátria, hoje em cerca de US$ 30 bilhões. 

O private equity da abrd aloca em três estratégias: investimentos primários em fundos globais de private equity, investimentos em oportunidades no mercado secundário, e co-investimento em empresas do portfólio desses fundos. 

O Pátria vai pagar £ 100 milhões pelo negócio, em três parcelas. Deste total, £ 20 milhões estão sujeitos ao atingimento de algumas metas de captação de recursos. 

O Pátria disse que alguns executivos da abrdn, como o head da área, Merrick Mkay, podem investir juntos na transação até o limite de £ 10 milhões, ganhando em troca ações do Pátria com um lockup de cinco anos. 

A transação vem num momento em que o apetite dos investidores locais por produtos alternativos tem crescido na América Latina.

“O primeiro passo [para esses investidores] é entrar em produtos locais em moedas locais, primeiro com mercados públicos, depois com REITs listados, e depois com produtos mais sofisticados como fundos de private equity e infraestrutura,” Alex Saigh, o CEO do Pátria, disse há pouco numa call com analistas. “O passo final é acessar produtos globais com parceiros que eles confiam e conhecem.”

Segundo o executivo, o Chile é um exemplo de mercado onde os investidores institucionais já estão mais sofisticados, investindo em ativos globais. O Pátria acredita que outros países da região, como o Brasil, devem seguir o mesmo caminho.

O AUM da abrnd vai se somar aos US$ 1,3 bilhão que o Pátria já tinha em feeder funds que alocam em fundos globais de private equity, e que vieram da aquisição da chilena Moneda em 2021. 

A fusão desses dois negócios vai dar origem a uma nova vertical no Pátria, a Global Private Market Solutions, que será liderada por Marco D’ipolitto, um executivo com mais de 18 anos de Pátria e que até agora era o chief corporate development officer. 

D’Ipolitto disse que a transação é relevante porque “esse negócio é movido por relacionamentos, e a abrdn construiu essa plataforma ao longo de duas décadas e tem relacionamentos com mais de 150 general partners [gestores de fundos].”

“Esses relacionamentos são ancorados por um pool de capital confiável para commitments primários, que dão um acesso diferenciado a oportunidades no mercado secundário e de co-investimentos,” disse D’Ipolitto.

O executivo disse que o portfólio da abrnd tem um track record “impressionante”, com uma TIR de 16% ao ano desde 2018 nos investimentos primários, e de 20% nos investimentos secundários e co-investimentos. 

A abrnd opera com uma taxa de administração média de 0,5% a 0,6%, o que dá uma receita anual de cerca de US$ 40 milhões. A margem de fee-related earnings (FRE) é de entre 30% e 40%, abaixo da margem que o próprio Pátria opera hoje, acima de 50%. 

D’Ipolitto disse que essa margem é menor pela natureza do próprio produto, e que a gestora não espera ganhos relevantes de margem por conta das sinergias. 

Com a transação, o Pátria chega a US$ 38 bilhões em ativos sob gestão e a US$ 31 bilhões de AUM que recebem fees, aproximando-se de seu guidance para 2025. 

No investor day do ano passado, o Pátria disse que espera chegar a US$ 50 bilhões de AUM nesse prazo, dos quais US$ 35 bi serão ‘fee earning’. O fee-related earning deve chegar a US$ 200-225 milhões. 

Parte importante desse crescimento tem vindo de M&As.

Desde que fez seu IPO em 2021, levantando US$ 600 milhões, o Pátria já comprou diversas gestoras, incluindo a Igah (de venture capital), a Kamaroopin (de growth capital), e a VBI (de fundos imobiliários), além da Moneda, que adicionou mais de US$ 10 bi em ativos.