Faz diferença sim ganhar uma Copa.  Faz toda a diferença.

Para um país com tantos problemas — reais e de autoimagem — triunfar no esporte que nos deu Pelé e Garrincha seria um sopro de autoestima e confiança.

A Copa é um jogo com regras específicas, muito difícil de ganhar. Vencê-la depende de organização, talento, muito suor, sorte e catimba (nessa ordem). É uma glória que redime a alma nacional. E é por isso que, a cada quatro anos, ela produz o momento mais democrático e igualitário de um País cada vez mais fragmentado: a torcida reúne do promotor ao acusado, do petista ao bolsonista, do pobre ao podre de rico.

E foi aí, enxugando as lágrimas, que caiu a ficha.

Nenhum senso de patriotismo verdadeiro deveria vir somente de uma taça ou de uma superioridade desportiva, e sim do orgulho de saber que o Brasil é um País onde se pode criar uma família, abrir uma empresa, cultivar um sonho.

Em vez do exercício autocongratulatório de nos enxergarmos hexacampeões, talvez nos sirva melhor a humildade de saber que, taça ou não, ainda não merecemos aplausos.

Podemos bater um bolão, mas ainda não conquistamos as garantias básicas de uma sociedade civilizada.

Ao invés de passarmos uma semana comemorando uma vitória simbólica, que tal passar os próximos meses construindo um sucesso tangível e verificável no dia a dia?

A eleição de outubro nos chamará a fazer escolhas importantes.  Graças a anos de decepção, no entanto, fica claro que a própria política já atingiu sua limitação representativa.

O que fazer então?  Ignorá-la?  Idiotizá-la?  Esconjurar os políticos como ’todos iguais’?

Quem faz isso faz gol contra. Nova tática: escalar um time comprometido com mudar as próprias regras do jogo.  Escolher as boas ideias antes de escolher as pessoas.

Mas não é só a política que vai refundar o Brasil.

É o brasileiro honesto que devolve o troco a mais e se recusa a furar a fila.  Esse ‘otário’ é o verdadeiro camisa 10.

Quem vai refundar o Brasil é o pobre que, ignorado pelo Estado, organiza a comunidade e tira o próprio lixo da frente de casa — logo antes de marchar até a Prefeitura e exigir ser tratado como cidadão.

É o empresário que, em vez de tentar avançar pela agenda setorial, prioriza a agenda do País, incluindo reformar a máquina estatal voraz e a burocracia insaciável que tanto custa a todos.

A corrupção não é o único grande mal da sociedade brasileira. Tem também o Estado que joga contra quem acorda cedo; o abismo cultural e social; o descaso com os vulneráveis; a intolerância. 

O que realmente importa?  Construir um país com oportunidade para todos. Insistir na democracia. Rejeitar os salvadores da Pátria. Entender que a política é uma ferramenta poderosa, e a economia, nossa chance coletiva. 

Todas as vitórias mais necessárias estão aqui dentro de casa. 

A filósofa Ayn Rand escreveu que “honra é autoestima que se manifesta em ações.”  Depois de sua derrota, os japoneses ainda assim limparam o próprio vestiário — e ainda deixaram um elegante ‘obrigado’ escrito em russo.  E nós?  Queremos ser conhecidos mundialmente pelo quê?  Qual o nosso verdadeiro triunfo enquanto sociedade?

É hora de ajudar nosso País em vez de chorar por ele. Não haverá heróis isolados. Haverá sempre uma nação, derrotada ou vitoriosa. Ainda aposto na vitória.