O fundador da Squadra Investimentos, Guilherme Aché, disse que a debacle das ações de empresas de tecnologia na bolsa nos últimos dias é o estouro de uma bolha.

“Estamos chamando de ‘fake techs,’” Aché disse numa live com estudantes da Unicamp. “Tínhamos receio de que o cenário de juros baixos criasse uma bolha no mercado de ações. E foram criadas bolhas superlocalizadas no Brasil, que inclusive estão sendo desinfladas agora.”  

11633 2567cdbc 78f0 c68e f1fc 4d7db3f69392Aché disse que os IPOs de empresas de tecnologia são uma moda no Brasil e no mundo, com o mercado a reboque de narrativas e termos como ‘software as a service’ (SaaS) ou ‘total addressable market’ (TAM). 

“Quanto mais você junta essas siglas todas, mais cara fica a ação. E essas empresas — muitas delas, na minha visão — não têm nada disso”, disse Aché. Para ele, as ‘fake techs’ são companhias que empilham essas siglas para se apresentarem como empresas de tecnologia, mas na prática têm pouco DNA tecnológico.
 
“Mas aí você tem uma combinação de gente querendo comprar esses termos, com banqueiros obviamente super incentivados para vender, conta-se um monte de mentiras, e os IPOs saem,” disse o sócio da Squadra. 

Apesar de enxergar bolhas em diversos nomes, Aché não vê nada sistêmico, que vá abalar o mercado como um todo. 

Para ele, o interesse crescente pelos temas de ESG está gerando uma oportunidade de compra…. nas companhias ‘anti-ESG.’

“Além da moda SaaS, tem a moda ESG, que reúne boas e más empresas. Mas o ponto é que algumas empresas são anti-ESG pela natureza do negócio, e estão sendo de certa maneira negligenciadas. Ninguém quer, elas caem de preço ou não sobem”, disse Aché, sem citar exemplos.  

O sócio da Squadra vê duas grandes incertezas hoje para o investimento em ações: o comportamento da inflação nos Estados Unidos e as eleições no Brasil ano que vem.
  
“São duas coisas imprevisíveis, mas muito relevantes para a formação de preço a médio e longo prazos. Infelizmente vamos ter que conviver com essas incertezas gigantes,” disse.  

A Squadra continua vendida em IRB. “Acho a empresa muito cara ainda,” disse Aché.

Os comentários foram feitos durante a 5ª Semana de Mercado Financeiro, organizada pelo Grupo de Mercado Financeiro da Unicamp.