As ações da PagSeguro derretem quase 13% esta manhã em Nova York, seguindo o anúncio de um follow-on ‘surpresa’ na noite de ontem.
A venda por parte dos controladores cinco meses após o IPO e uma nova oferta primária para reforçar o caixa aumentaram os temores de que a competição pode estar mais acirrada do que o esperado e colocaram em xeque as vantagens competitivas da companhia. Na contramão, a Cielo avança 1% na B3.
“Você tem um controlador vendendo antes do fim do período de lockup, logo depois de diversos concorrentes dizerem que estão entrando forte no segmento”, diz um gestor. “É um sinal péssimo para esse mercado em termos de competição”.
Além de dois terços da oferta serem secundários, o lote suplementar da oferta, se colocado, também vai todo para o bolso do UOL, cuja participação cairia de 60,7% para até 50,7%.
O sellside reagiu com horror: o Credit Suisse cortou sua recomendação para a PAGS de ‘neutral’ para ‘underweight’ (o equivalente a ‘venda’), e reduziu o preço-alvo de US$ 32 para US$ 27.
“Mais importante que a diluição significativa, o sinal negativo implícito na oferta secundária sublinha nossa visão de que a competição está aumentando num ritmo rápido, mesmo para as nossas previsões abaixo do consenso”, diz a equipe liderada por Lucas Lopes.
A PagSeguro quer levantar cerca de R$ 1,4 bilhão na oferta primária, apesar de ainda ter R$ 2,5 bilhões no caixa – o que, em princípio, sinaliza que a empresa precisa investir muito pesado para fazer frente à competição, com guerra de preços e pressão sobre margens.
“A dinâmica recente do segmento aumenta nossa preocupação, por conta da resposta praticamente imediata da PagSeguro a corte de preços e descontos promocionais por parte dos pares, o que nos levaa questionar as barreiras de entrada no segmento”, diz o banco, destacando o MercadoPago, do Mercado Livre, como um novo concorrente relevante.
O Credit Suisse ressalta que a contraofensiva das adquirentes tradicionais pode ser mais forte que o esperado e por isso, mudou sua preferência para Cielo — alegando que, neste caso, ao contrário de PagSeguro, o ambiente ‘desafiador’ já está no radar dos investidores, o que deixa menos espaço para surpresas negativas nos resultados.
O BTG disse que em relatório que a oferta, associada a resultados piores que o esperado no primeiro trimestre e a depreciação do real, deixa o viés para PagSeguro ‘mais negativo’. “Um aumento de capital adicional vai levantar mais questões sobre como a empresa vai usá-lo, porque dinheiro parado significa uma deterioração do ROE [retorno sobre patrimônio]”, escreveram os analistas do banco. A recomendação já era neutra, com preço-alvo de US$ 27.
O lockup dos acionistas de PagSeguro acabaria no fim de julho — mas os bancos deram um ‘waiver’ à companhia. O argumento é que a operação vai reforçar a liquidez: o free float deve sair de 38,5% para 42,7%.