No mercado de mineração, muitos donos de direitos minerários não conseguem fazer descobertas geológicas por falta de capital.
Enxergando essa lacuna, cinco ex-executivos de empresas como Vale, Bunge e Anglo American se uniram há dois anos para fundar a Ore Investments, uma gestora de private equity focada no setor.
“Falta esse capital de risco para a descoberta de novas jazidas,” Mauro Barros, sócio e CEO da Ore, disse ao Brazil Journal.
Depois do early stage, que envolve a pesquisa e a descoberta de uma jazida, a mineração ainda passa por diversas fases, como o estudo de viabilidade de uma mina, licenciamento ambiental, construção da mina, comissionamento e operação.
No Brasil, há mais investidores dispostos a financiar essas outras fases, em que o risco geológico já foi superado. Já o capital para o early stage ou é próprio (dos empreendedores) ou pode vir de outras mineradoras ou investidores estrangeiros, mas não é comum sob o formato de um fundo de private equity.
Ano passado, a Ore levantou seu primeiro fundo, com US$ 48 milhões de capital comprometido. A gestora paulista Spectra, que já tinha relacionamento com o time da Ore, foi o investidor âncora; os outros cotistas são family offices brasileiros e investidores internacionais dedicados ao setor.
O fundo da Ore tem prazo de dez anos e deve fazer de 4 a 6 investimentos, com cheques de US$ 5 milhões a US$ 10 milhões.
A primeira aposta do fundo foi em abril deste ano: uma área em Carajás, no Pará, com bom potencial para a descoberta de cobre e, possivelmente, ouro, segundo Mauro.
O segundo investimento foi concluído agora: uma parceria com a também mineira Genesis Mining num projeto de exploração de ouro em Nazareno, no interior de Minas.
O projeto está dentro da área de uma mineradora de grande porte, cujo nome não foi revelado e que permanecerá com participação no ativo. Hoje, o projeto possui 700 mil onças de ouro em recursos, o estágio anterior às reservas. (Glossário: o ‘recurso’ é a quantidade de mineral estimado com razoável nível de confiança, enquanto a ‘reserva’ é a parte economicamente lavrável do recurso.)
O que atraiu a Ore para o investimento foi a possibilidade de pesquisa nas proximidades dessa área, que poderá elevar o projeto para 1 milhão de onças de ouro em reservas. (Para efeito de comparação, a Aura Minerals, listada na Bolsa, possui cerca de 2 milhões de onças de ouro de reservas provadas e prováveis.)
“Uma mina dessas — operando com produção anual de 70 mil onças, e considerando o preço médio atual — geraria uma receita de US$ 100 milhões ao ano, por 10 anos,” diz Mauro, acrescentando que o ativo de Nazareno é de porte médio.
O investimento previsto no projeto Nazareno é de US$ 5 milhões ao longo de 4 anos. A Ore vai dividir a gestão e o risco exploratório com a Genesis, que assinou um contrato de farm-out com a mineradora dona da área, que continua no projeto.
A Ore pretende diversificar a carteira do fundo com outros metais. Está atenta a projetos de cobre, níquel e zinco (metais básicos) por conta de projetos de infraestrutura e de transmissão de energia. E também são opções o fosfato, utilizado em fertilizantes; além de lítio, cobalto e grafite, os metais “de baterias”, essenciais para a descarbonização da economia.
Nos metais preciosos, o foco é mesmo o ouro, um porto seguro utilizado como hedge pela indústria de investimentos em tempos de inflação — além de demandado pelas indústrias de joias e eletrônica.
Mauro diz que ainda há muita coisa para descobrir com a pesquisa mineral no Brasil.
“Existe uma compreensão equivocada de que tudo já foi descoberto, mas ainda temos muito o que avançar no nível de conhecimento geológico, do ponto de vista de escala e de prospecção,” disse. Segundo ele, há, inclusive, a possibilidade de descoberta de minas novas de “classe mundial,” que vão fazer diferença na produção mundial de uma commodity. Outras minas, hoje fechadas, também podem ser reabertas com novas tecnologias.