DILMA ROUSSEFF. Não se sabe por que esta mulher quer ser Presidente. Herdeira do capital político de seu Criador, Dilma Rousseff fez uma bela transição da guerrilha à vida democrática, mas, na economia, suas referências ideológias de esquerda ficaram fincadas em algum lugar opaco e complicado dos anos 70. Em seu primeiro mandato, Dilma pariu um Governo voluntarista, disposto a mudar a economia por decreto. Ao intervir no setor elétrico para baratear a energia na ponta, acabou colocando o País à beira de um racionamento e gerando um esqueleto de dezenas de bilhões de reais para a Viúva. Para turbinar o BNDES, seu Governo criou a fantasia contábil de que as dívidas do Tesouro com o banco só passam a ser devidas daqui a dois anos. Coisa de maluco, ou de ideólogo. Frequentemente aparecendo em público com aquela cara inconfundível de quem comeu e não gostou, Dilma lembra mais aquele Lula que usava a camiseta “Hoje eu não tou bom!” do que o “Lulinha Paz e Amor” que finalmente venceu em 2002. O Poder parece fazer Dilma infeliz, mas não se consegue imaginar seu partido fora dele. Assim como Dilma, o PT também fez sua transição — do figurino “oposição cão-raivoso” para o projeto “tudo-pelo-poder”. É um partido que tudo justifica, se a causa for própria, e reivindica para si o benefício da dúvida que sempre negou a terceiros. A provável reeleição de Dilma é um monumento à tese de que a frase “é a economia, estúpido” é o que sela o destino de quem busca reeleição. Mas para seus eleitores, que ainda não percebem o naufragar lento mas constante da economia , outro ditado marcará 2015: “Cuidado com o que você deseja: você pode acabar conseguindo.”
AÉCIO NEVES. Não se sabe se este homem quer mesmo ser Presidente. Por mais que se atribua ao DNA mineiro uma tendência exagerada ao comedimento e à cautela, a verdade é que o Senador Aécio Neves nunca deu sinais de que estava enlouquecidamente faminto por ser Presidente. Até seus eleitores mais apaixonados reclamam que ele demorou para “querer de verdade” a Presidência e perdeu tempo precioso nos últimos quatro anos, quando poderia ter viajado mais o Brasil e trabalhado melhor uma mensagem ao eleitor que fosse além da necessária mas insuficiente desconstrução do PT. Aécio tem reconhecidamente a melhor equipe técnica a apoiá-lo, mas é estarrecedor que uma candidatura financiada pela esmagadora maioria do PIB tenha sido incapaz de exibir o mesmo talento de marketing que o da candidatura da elite sindical, um vexame que fica evidente quando deixam o candidato dizer coisas desconectadas do brasileiro médio como “meu governo foi um case de sucesso” e “temos que ter uma política fiscal sólida.” Mas o que faltou a Aécio em gana aparentemente sobrou-lhe em sorte. Quando o avião de Eduardo Campos caiu, Marina Silva foi vista como uma predestinada: a tragédia lhe restituiu a candidatura pela qual ela havia lutado sem sucesso. Mas se a eleição de hoje tiver mesmo um segundo turno e Aécio estiver nele, é o senador mineiro que ganhará ares de predestinado: terá sobrevivido ao ‘fator Eduardo’, que quase santificou Marina, e, pelo menos temporariamente, à máquina do Governo e à sua própria campanha.
MARINA SILVA. Não se sabe como esta mulher conseguirá governar se eleita Presidente. O slogan é chamativo, inspirador e define tudo que os brasileiros que foram às ruas em junho de 2013 querem: uma “Nova Política”. Mas por trás do apelo semântico do termo, esconde-se a dificuldade fria e dura de se governar o Brasil sem aquela parcela fisiológica e ocasionalmente criminosa que faz do Congresso Nacional uma casa de tolerância . Não está claro se o mantra de Marina — ‘governar com os bons de cada partido’ — é matematicamente suficiente para aprovar as reformas que ela defende e que o País precisa, mesmo assumindo uma adesão tucana e um período de carência por parte do PMDB. Talvez o hiato que separa o sonho de uma política limpa do realpolitik necessário para vencer (e governar) tenha sido melhor exemplificado quando a campanha sucumbiu à crítica demagógico-evangélica na questão de direitos LGBT. Ainda que se possam atribuir os ziguezagues da campanha de Marina à improvisação necessária depois da morte inesperada de Eduardo, talvez as mudanças — exploradas tão habilmente pelos petistas — tenham a ver mesmo com a dificuldade em se resolver aquele velho problema: como fazer um omelete (orgânico) sem quebrar ovos.