O principal foco na nova empresa resultante da fusão da Arezzo&Co com o Grupo Soma será a Hering, disse Alexandre Birman, que vai comandar a empresa combinada.
“Blumenau vai ser minha segunda sede,” Birman disse hoje cedo numa reunião com investidores. “Estou virando aprendiz do Thiago [Hering] e tenho uma vontade muito grande de atuar lá. Pretendo alocar um tempo importante nisso.”
Birman disse que das quatro unidades de negócios que serão criadas com a transação — calçados, vestuário masculino, vestuário feminino e vestuário básico (a Hering) — a que está mais madura em termos de liderança e gestão é a de vestuário masculino, liderada por Rony Meisler.
A segunda mais madura, segundo ele, é a de calçados, que será liderada por Luciana Wodzik, uma veterana da Arezzo&Co que hoje é diretora de marcas da companhia. “Tem uma necessidade importante de atenção na Schutz e na parte de internacionalização, mas ela está bem encaminhada.”
Na vertical de vestuário feminino, liderada por Roberto Jatahy, Birman também disse que pretende dedicar um tempo substancial.
Para ele, o low-hanging fruit em termos de sinergias é a implementação da categoria de calçados dentro das marcas da Soma.
Birman disse que a Arezzo&Co implementou essa estratégia com a Reserva com a criação da Reserva Go, que em três anos saiu de zero para mais de R$ 300 milhões de receita, ou 25% das vendas da marca.
“Trabalhamos na Arezzo&Co como se tivéssemos licenciado a marca Reserva para calçados. Toda a equipe de criativos veio da Reserva, e a parte de sourcing, produção e desenho veio da Arezzo. Vamos aplicar isso da mesma forma nas marcas do Soma,” disse ele.
As principais oportunidades, segundo ele, são com as marcas Farm e Hering, mas Birman também vê espaço para aplicar a estratégia na Animale. A expectativa é que os calçados já comecem a ser vendidos nessas marcas no segundo semestre.
A segunda sinergia mais óbvia, segundo Birman, é na otimização do parque industrial da Hering. Para ele, o custo do produto vendido (CPV) da malharia da Hering é “excelente”, e a ideia é usar essa estrutura para melhorar a eficiência das outras marcas do grupo.
Outra sinergia importante é o que Birman chamou de “evolução do modelo de negócio.”
“Quando você tem um modelo de resposta rápida, isso gera muito benefício, seja na melhoria do capital de giro ou na receita líquida, porque tem menos estocagem no todo,” disse ele. “Vamos usar o hardware da Hering como base, e o software vai ser conectar a criação do produto ao desenvolvimento e sourcing, e esse vai ser o pulo do gato.”
Segundo ele, isso é uma sinergia mais de médio/longo prazo e vai exigir muito foco da empresa.
“Na Farm, por exemplo, tem uma vontade muito grande de encurtar o tempo da criação até ter o produto na loja. É um processo complexo, mas que deve gerar muito valor.”
A fusão foi assinada ontem à noite, com os acionistas das duas empresas concordando com uma transação que consiste na incorporação do Grupo Soma pela Arezzo&Co, com os acionistas da última ficando com 54% do capital da nova empresa, e os do Grupo Soma, com 46%.
O bloco de controle terá 37,75% das ações, com os atuais controladores da Arezzo&Co – a família Birman – ficando com 21,3%, e os do Grupo Soma com 16,4%. Essas ações estarão vinculadas a um acordo de acionistas com um lockup de 10 anos – 25% das ações serão liberadas em cinco anos, e o restante ao longo dos cinco anos seguintes.
Jatahy disse que o prazo de cinco anos é o que a empresa considera necessário para conseguir extrair todas as sinergias mapeadas, destravando o valor esperado da transação.
“Nossa preocupação é deixar um legado: marcas com 100, 200 anos, que é algo que o Brasil tem dificuldade de fazer, seja por uma pressa de ter resultados, seja por uma dificuldade na sucessão criativa,” disse Jatahy.
O conselho da nova empresa será composto por sete membros — três de cada lado e um independente, com o chairman sendo escolhido em conjunto. No evento, Guilherme Benchimol disse que foi convidado pelos controladores para ser um dos board members da empresa.
A XP assessorou a transação pelos dois lados, com Benchimol e José Berenguer envolvidos pessoalmente nas conversas, junto com o Itaú BBA. O JP Morgan deu um fairness opinion ao conselho da Soma, e o Bank of America produziu um valuation report para a Arezzo&Co
Jatahy disse que partiu dele a decisão de Birman liderar o negócio combinado.
“Tem uma distribuição de tarefas importante. Com a aquisição da Hering, percebi que a questão de alocação de tempo é muito importante e eu estava sendo muito sobrecarregado com questões de RI, de governança. Acho que o Alexandre navega muito bem essas questões, e eu libero meu tempo para focar no que eu sou bom, que é em achar bons ativos, fazer M&As e embarcar os novos sócios no portfólio,” disse ele, acrescentando que não existe nenhuma disputa de protagonismo. “O foco é gerar valor.”
Segundo Jatahy, o ‘sonho grande’ para a nova empresa é criar algo global.
“Temos um problema no Brasil que é a dificuldade de crescer. Então temos que aumentar o nosso mercado endereçável, crescendo em outros países. Já pensamos muito numa expansão na América Latina,” disse ele.
Ele notou ainda que, com a escala da nova empresa, deve ficar mais fácil fechar contratos de licenciamento com grandes marcas globais que queiram entrar no Brasil.
A transação criou um gigante da moda com R$ 12 bilhões em faturamento, R$ 1,5 bi em EBITDA e R$ 750 milhões de lucro líquido. A alavancagem da empresa combinada será de 0,8x.