Quando comecei no mercado financeiro, em 1990, existia uma reserva de mercado para gestores de fundos.
A maioria dos investidores tinha acesso basicamente a CDBs e aos fundos de seus próprios bancos. As performances nem sempre eram as melhores, e os custos, muitas vezes, abusivos — fundos de renda fixa com taxas de administração de 4% ao ano eram comuns.
As plataformas digitais mudaram tudo, forçando os bancos a oferecer produtos de terceiros e jogando luz sobre a performance e os custos.
Hoje é possível investir em toda a estrutura de capital das empresas – capital privado (seed capital, séries A e B, pré-IPO), títulos de crédito, ações, special situations, ativos imobiliários –, além de Tesouro Direto, fundos multimercado, precatórios, commodities, entre outros. Os investidores de maior porte também passaram a ter acesso a investimentos no exterior.
Com a disseminação da inteligência artificial, o leque de oportunidades tende a aumentar ainda mais. Nesse cenário, fundos de ações deixaram de ser a única alternativa para o brasileiro adicionar retorno à sua carteira.
Esse acesso ampliado a novos produtos foi uma das inspirações para o quarto livro da série Fora da Curva (Portfolio-Penguin, 296 páginas), que chega às livrarias no dia 4 de novembro (pré-venda aqui).
O livro traz estratégias que nem sequer eram conhecidas quando Giuliana Napolitano (deste Brazil Journal), Pierre Moreau e eu lançamos o primeiro da série, em 2016.
Desde o começo, nossa ideia foi levar aos interessados no mercado financeiro as perspectivas de diferentes mercados por meio da trajetória de grandes investidores – aos quais nem sempre o público tem acesso.
Nesta quarta edição, há histórias deliciosas. Alex Behring, da 3G Capital, conta os bastidores dos M&As do Burger King, Heinz e Kraft.
Também há histórias pouco conhecidas de Paulo Guedes como investidor – desde a criação do Pactual até o grupo Afya – e de Marcelo Claure, hoje um dos principais investidores de venture capital, ex-Softbank e o CEO por trás do turnaround da Sprint.
“É um equívoco achar que o SoftBank teve grandes perdas em seus investimentos. O Vision Fund, que muita gente critica, já retornou todo o capital investido e continua sendo lucrativo. As pessoas adoram focar nos investimentos que deram errado, mas, sem o SoftBank, não existiria Uber, TikTok e muitas outras empresas inovadoras,” Claure diz no livro.
Tania Chocolat, do fundo canadense CPP, traz a perspectiva de um investidor estrangeiro de longo prazo, e Sara Delfim conta como fez a transição da carreira de analista para a de gestora, ao fundar a Dahlia com outros sócios.
Luiz Felipe Dias de Souza, Daniel Goldberg e Ralph Rosenberg descortinam um mundo novo de investimentos complexos e rentáveis.
Goldberg diz que sua filosofia de investimento “não é buscar coisas complexas ou fáceis, difíceis ou suaves, muito tortas ou muito retas, com sofrimento ou sem sofrimento. Minha filosofia é criar um repertório de modelos mentais de situações em que, na maioria das vezes, vou ganhar dinheiro porque sou o único a oferecer uma solução. Ou porque, apesar de não ser o único a oferecer uma solução, tenho uma solução valiosa o suficiente para que quem a receba decida compartilhar parte do prêmio comigo. E há uma série limitada, não infinita, de situações em que isso acontece.”
Luiz Barsi e Octávio Magalhães mostram como encaram os investimentos em bolsa de uma perspectiva diferente da maioria e que gerou retornos altíssimos.
“Quem assistiu à série The Chosen vai entender o que digo: ao testemunhar um milagre, é muito mais fácil entender essa experiência. Ter o Luiz Alves Paes de Barros — primo do meu pai — como mentor facilitou imensamente minha compreensão do mercado de ações,” diz Magalhães, que fundou a Guepardo.
O livro traz ainda os perfis da banqueira Andrea Pinheiro, do gestor Felipe Guerra e de Elie Horn, cuja trajetória se confunde com a do mercado imobiliário brasileiro – muito embora ele diga que sempre preferiu ser o segundo em tudo que fez.
A maior transparência tornou a vida mais dura para os gestores medianos. Investidores excepcionais, ganhadores de dinheiro são raros — na bolsa brasileira, contam-se apenas algumas dezenas.
Há, sim, centenas de excelentes analistas de investimentos, de operações e de sales & trading, que desempenham papéis fundamentais e têm carreiras geralmente mais longevas.
O que torna um investidor realmente excepcional é o que buscamos decifrar nesta série.
Hoje não existe mais vantagem comparativa de acesso à informação; a diferença está no comportamento. O temperamento e o processo de gestão de risco do investidor tornaram-se os fatores mais importantes.
Como diz Warren Buffett, investir em ações é uma atividade para pessoas racionais.
Os entrevistados do livro exibem uma boa dose de foco, dedicação, autoconhecimento, autocontrole e paixão pelo que fazem. Isso não quer dizer que vão acertar sempre, é claro, mas que têm o necessário para ser fora da curva.
Florian Bartunek é fundador da Constellation Asset Management.