No ano passado, o Instituto de Formação de Líderes (IFL) produziu um vídeo que começava mostrando a cara de figuras deploráveis como Nicolás Maduro, Idi Amin Dada, Kim Jong-un, Josef Stalin e Adolf Hitler, para ficar apenas nos que mataram mais gente.

A ideia do vídeo era mostrar o abismo que existe entre regimes obscurantistas e o tema do evento: a ‘sociedade aberta’, um conceito que remete ao trabalho do filósofo Karl Popper e que é subjacente à própria existência das democracias liberais.

Mas, ousando meter o dedo na ferida, o IFL incluiu no vídeo uma imagem de Donald Trump (no qual o ainda candidato prometia ‘build a great wall’) e de Jair Bolsonaro dizendo que ‘daria golpe no primeiro dia’ de sua presidência e fecharia o Congresso Nacional, além, é claro, de se prontificar a fazer ‘o trabalho que o regime militar não fez: matar uns 30 mil, começando por FHC.’)

Numa época em que o debate político é travado a partir do fígado, e em que vicejam ‘soluções’ simplórias cujo enunciado cabe numa frase, o IFL tem permanecido uma ilha de racionalidade em mares ideológicos revoltos.

O evento do ano passado mostrou (ainda) que é possível ser coerente, defendendo o liberalismo tanto na economia quanto na vida política, uma posição intelectualmente honesta em tempos avessos a nuances.

Na segunda-feira, o IFL realizará seu 4º Fórum Liberdade e Democracia, que desta vez terá como tema “A era da disrupção”.  Os CEOs brasileiros do Google e da Amazon estarão presentes, assim como o Prefeito João Dória e outros palestrantes.

 
Num Brasil cada vez mais fragmentado, talvez um de nossos poucos denominadores comuns seja mesmo a tecnologia — e os desafios que ela impõe democraticamente a todos.

O Brazil Journal conversou com o presidente do IFL/SP, Miguel Campos.

Vocês são um instituto apartidário com um credo liberal clássico.  O que ser liberal significa — e não significa — no Brasil de hoje?

Hoje, no Brasil, a palavra ‘liberal’ parece ter entrado na moda de vez, muito devido ao resultado das políticas intervencionistas dos governos passados. Isso tem levado alguns políticos e movimentos a se apropriarem do termo erroneamente, a fim de surfar a onda em 2018. Ser liberal é respeitar as liberdades individuais, a propriedade privada e o Estado Democrático de Direito, sem esquecer da defesa contundente do livre mercado.

No ano passado, vocês fizeram um vídeo corajoso e foram criticados por apoiadores do Deputado Federal Jair Bolsonaro.  Em seguida, vocês o convidaram para o evento, para que a voz dele também fosse ouvida.  A eleição de Bolsonaro seria um avanço ou retrocesso para o liberalismo no Brasil?

O IFL hoje não tem posicionamento acerca de nenhum candidato. Os associados se posicionam conforme suas convicções. Pessoalmente, percebo como um movimento natural que candidatos da velha política que nunca tiveram afinidade com as ideas de liberdade comecem a elaborar discursos pró-mercado. O liberalismo na economia está ganhando cada vez mais espaço e passa a ser quase consenso entre candidatos com pretensões presidenciais, como Bolsonaro. Sem dúvida é um risco que corremos como movimento e estamos atentos aos oportunistas. 

Demorou muito tempo para a sociedade brasileira chegar a um consenso mínimo sobre a necessidade de uma agenda liberal na economia.  Mas hoje, o debate nas redes sociais está avançando também sobre os costumes, onde está longe de haver um consenso.  Como o IFL lida com este debate?

Vivemos num país em que uma grande parte da população ainda é conservadora na questão de costumes; pelo menos é o que apontam diversas pesquisas de opinião já divulgadas. Entretanto, creio que na “Era da Disrupção” devemos sim avançar sobre esses temas que são de suma importância para termos uma sociedade mais livre.

 
O Instituto entende que a posição acerca desse debate sobre os costumes é pessoal, apesar da grande maioria dos associados defenderem a liberdade no sentido amplo.

Por que vocês escolheram a tecnologia como tema do evento deste ano?

A tecnologia hoje é tema central de debates na sociedade civil, na academia e nas empresas. As mudanças que a tecnologia vem trazendo para setores tradicionais  da economia — como os bancos, a mobilidade urbana, o varejo — estão impactando cada vez mais os consumidores e os negócios, em uma velocidade que não conseguimos absorver. Até os governos, de certa forma, estão tendo que se reinventar nesse novo contexto. A pressão regulatória do Estado parece não acompanhar mais as novas tecnologias oriundas das centenas de milharaes de startups que inovam no mercado.  Por conta disso, entendemos que o impacto desse tema na sociedade é relevante e nada melhor do que trazê-lo para o debate. Muitas pessoas não entendem, mas não há nada mais liberal do que o efeito que a tecnologia traz para os mercados: mais inovação, mais concorrência e menos intervenção do governo. 
 

Qual é a missão do IFL hoje?  Como é o programa de formação de líderes na prática, no dia a dia?

A missão do Instituto de Formação de Líderes é de formar jovens lideranças comprometidas com a construção de um Brasil livre e próspero. Acreditamos, contudo, que esses jovens que futuramente ocuparão cargos-chave nas grandes empresas, na política e em outros movimentos da sociedade civil devem defender, acima de tudo, os valores liberais como forma de buscar o desenvolvimento do país.
 
Na prática, os associados do IFL são submetidos a um Ciclo de Formação que envolve eventos semanais com grandes líderes políticos, acadêmicos e empresariais, a leitura de livros, produção de artigos e participação em projetos de impacto na sociedade civil. Com um grupo reduzido e tendo valores e metodologia bem definidos, entendemos que potencializamos as habilidades dos jovens para que rapidamente possam ocupar posições de liderança. Os resultados apresentados até hoje nos permitem acreditar que estamos no caminho certo e podemos contribuir muito com o País.
 
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Os ingressos são R$90 para estudantes e R$ 180 para os demais participantes. A programação completa do evento está aqui.
 
Na foto acima, Winston Churchill durante a American Thanksgiving Celebration, no Royal Albert Hall, em Londres (1944).