Valid, Fras-le, Lavvi, Tupy, Ferbasa. 

Numa janela horrorosa para os fundos de ações – em que menos de um terço dos fundos superaram o Ibovespa – as gestoras Tarpon e Organon bateram o mercado de longe investindo em papéis como esses, que rodam abaixo do radar dos grandes fundos por terem valor de mercado pequeno e baixa liquidez diária. 

O Tarpon GT rendeu 270% e o Organon, 307% nos últimos cinco anos até maio, comparado a uma alta de 57% do Ibovespa e do CDI no período.

Foram os maiores rendimentos entre os fundos de ações long only, segundo um levantamento da consultoria Outliers Advisory (que exclui carteiras exclusivas e outras estratégias de Bolsa, como long biased). 

06 30 Raphael Maia ok

Estes fundos também ficaram entre os top 5 em três anos, com retornos de 102% (Tarpon) e 82% (Organon). O Ibovespa valorizou 23% nesse intervalo, enquanto o CDI subiu 42%.

Além de buscar ações menos negociadas, as duas gestoras concentram a carteira em poucos papéis – uma estratégia arriscada mas que, quando dá certo, potencializa o retorno.  

“Tentamos fazer um trabalho granular para encontrar as empresas subavaliadas que os grandes fundos negligenciam, e muitas vezes por bons motivos,” Raphael Maia, o fundador e CIO da Organon, disse ao Brazil Journal. 

Em 2021, o maior retorno do Organon veio da Ferbasa. No ano seguinte, da Tupy e, em seguida, de Valid e Marcopolo.

A Tupy passou a prejudicar o rendimento em 2024, em meio a problemas de governança. A ação caiu 22% no último ano, e a Organon reduziu a posição por enxergar riscos de execução. 

Este ano – um período em que o fundo rende 21% –, metade da carteira está investida em cinco ações: Anima (que sobe 165% desde janeiro, depois de ter caído 50% em 2024), Iguatemi, Iochpe-Maxion, Valid e OceanPact.

Os grandes investidores mal olham para muitas dessas empresas, porque um fundo que tem alguns bilhões de reais em AUM dificilmente conseguirá montar posições capazes de fazer diferença no retorno.

A Organon não tem esse problema: gere apenas um fundo, com R$ 700 milhões de patrimônio. 

“O que deu retorno nos últimos anos foi ficar short em small caps e long em dividendos. A Organon soube aproveitar a expertise que tem para ganhar fazendo o oposto,” diz um analista de fundos. 

A dúvida em relação à gestora tem a ver com isso: o quanto a estratégia se sustenta se o patrimônio continuar crescendo. 

O fundo nasceu como um clube de investimentos quando Maia trabalhava na asset do BTG Pactual e não conseguia fazer esses investimentos nos produtos do banco justamente por conta do tamanho. Ele saiu de lá em 2020 para montar a Organon.

Maia diz que não gere um fundo de small caps – investe também em empresas como Suzano e Gerdau – mas que o plano é controlar o patrimônio para conseguir aproveitar as oportunidades também em ações menos negociadas. 

A Tarpon é uma casa maior, que gere fundos líquidos e ilíquidos. A estratégia de Bolsa tem cerca de R$ 4 bilhões de patrimônio, e o retorno nos últimos anos veio da alta das ações em carteira e também da distribuição de dividendos. 

A gestora gosta de se ver como uma holding de empresas cujos resultados, com o tempo, são refletidos nos preços das ações. 

A maior posição do fundo é a Fras-le, que responde por cerca de 30% do patrimônio. 

Desde 2019, quando a Tarpon começou a comprar o papel, o EBITDA anual da Fras-le aumentou de R$ 190 milhões para R$ 730 milhões e a receita mais que dobrou, resultado apoiado numa estratégia bem sucedida de aquisições em diferentes países

“Autopeça é como lâmina de barbear: quando gasta, você é obrigado a comprar outra, então a receita está menos sujeita aos altos e baixos da economia,” diz um gestor. 

A Fras-le se valorizou 415% em cinco anos, mas o maior salto ocorreu de 2023 para cá, quando a cotação subiu de R$ 9 para R$ 27.

O Tarpon GT também tem ações da Lavvi, uma incorporadora do grupo Cyrela cujo CEO é Ralph Horn, um sobrinho de Elie Horn. 

O fundo investiu na empresa em 2021, depois de um IPO complicado e uma queda de quase 50% das ações. Desde então, o papel mais que dobrou e o ROE passou de 15% para 25%. 

Hoje o fundo tem uma participação de 15% na companhia, e o investimento na Lavvi responde por 11% da carteira.  

O risco da estratégia das duas gestoras é justamente o que multiplicou seu retorno nos últimos anos: a concentração em ações pouco líquidas. Se uma tese dá errado, o impacto no fundo é relevante, e pode levar meses para a posição ser desfeita. “É inadequado para um fundo D+30 ou D+60,” diz um analista.

A Tarpon já sofreu com isso no passado, quando chegou a ter 60% de seu patrimônio na BRF.

Maia diz que concentra a carteira “sem exageros”, para evitar grandes volatilidades. Mas lembra que as boas oportunidades são escassas. “É difícil ter 20 boas ideias.”