Se você acha que a Netflix está para o cinema como a luz elétrica está para o lampião a querosene, think again: os donos de cinema dizem que estão dormindo tranquilos.

Num evento do setor em Las Vegas, segundo a CNBC, produtores de filmes e donos de cinemas americanos se mostraram despreocupados com o crescimento das plataformas de streaming  uma indústria que está começando a ficar saturada. (Há duas semanas, a Apple lançou seu serviço, entrando na fila atrás da Warner, Comcast e Disney).

O discurso foi uníssono entre as empresas: não há absolutamente nada a temer.

“Todo mundo tem cozinha em casa, mas as pessoas continuam saindo para comer fora,” resumiu Charles Rivkin, o presidente da Motion Picture Association of America (MPAA)  a entidade que representa as produtoras de filmes.

Para ele, a preocupação com o impacto do streaming é igual à que surgiu com a ascensão de diversas outras inovações na indústria de entretenimento (os filmes em technicolor, a própria televisão, a TV a cabo e os smartphones). No final, nenhuma delas foi capaz de abalar a indústria, disse Rivkin.

Outro sinal de que não há motivo para pânico: mesmo com o avanço das plataformas de streaming, as bilheterias continuam bombando.

No ano passado, a venda de ingressos de cinema movimentou US$ 11,9 bilhões nos Estados Unidos, um crescimento de 5%. No período, 75% dos americanos  ou 263 milhões de pessoas  assistiram a pelo menos um filme na telona.

As produtoras de filmes e os donos de cinemas parecem enxergar o streaming mais como um serviço complementar do que um inimigo mortal. Em janeiro, a Netflix tornou-se membro da MPAA, e a indústria tem se mostrado aberta para trabalhar em conjunto com a empresa.

Um estudo da EY intitulado “The Relationship Between Movie Theater Attendance and Streaming Behavior” mostra que as pessoas que vão com mais frequência ao cinema são justamente as que mais consomem os conteúdos de streaming.

“Nossa aposta é que a Netflix e a expansão das plataformas de streaming terá um impacto mínimo nas bilheterias dada à vasta oferta de conteúdo, a maior parte ideal para um lançamento no cinema, e à oposição [dos criadores de conteúdo] a lançamentos que não passem antes pelo cinema,” Michael Pachter, um analista que participou do evento, escreveu num relatório.

Apesar do discurso, nem tudo é um mar de rosas na relação: os donos de cinema não parecem felizes com a forma como a Netflix lida com as “janelas de exibição”.

Tradicionalmente, os estúdios de Hollywood  e mesmo players como a Amazon  esperam 90 dias de exibição nos cinemas antes de lançar os filmes nas plataformas de streaming, prazo que não tem sido respeitado pela Netflix.

“Os exibidores foram muito claros que querem continuar trabalhando lado a lado com a Netflix, já que nenhum dos dois têm sido impactado negativamente pelo outro”, Pachter disse. “Além disso, gostariam de exibir as produções da Netflix se a empresa estivesse disposta a respeitar as janelas de exibição.”