Dentre os valores da República que compete ao Presidente proteger, a manutenção de um discurso civilizado é um pilar fundamental.

Ainda que não escrito na Constituição, a boa prática e a experiência histórica mostram que líderes que usam a palavra para construir e inspirar vão mais longe que aqueles que a usam como espada, arpão ou fuzil.  Esta postura beligerante só produz fumaça, calor e danos imprevisíveis.

É verdade que as redes sociais mudaram a conversa global, dando palanque a discursos extremistas que antes ficavam escondidos no chão frio do recalque pessoal e a cama vazia da frustração sexual.

Mas um líder digno deste nome não pode seguir a lógica das redes.  Ele tem que se erguer acima delas e demonstrar valores e palavras capazes de unir e empurrar o País para frente.

A esta altura, muitos brasileiros já não esperam muito de Jair Bolsonaro além da implementação de reformas econômicas urgentes, profundas e inadiáveis.

E, dentro deste espírito de reconstrução nacional, muitos de nós fazemos um silêncio obsequioso em relação aos absurdos ditos pelo Presidente, seus filhos e ministros.

A explicação moral aqui é que, talvez, o bem a ser feito na economia impactará as vidas das pessoas mais que o mal que as palavras podem fazer.

Pode ser que as coisas em parte funcionem assim, mas até essa tolerância tem limites.  

A República não se constrói no vácuo moral (ainda que com fachada moralista).  De que adiantará um PIB robusto daqui a 5 anos se o País chegar lá mais dividido do que nunca, com brasileiro odiando brasileiro, e com o nível do debate na sarjeta onde já se encontra?

“A educação começa em casa” é uma dessas verdades do senso comum que um homem de família como o Presidente deve conhecer e apreciar.  Mas se ele é capaz de entender esse conceito, não lhe será difícil compreender que suas palavras têm o poder de elevar (ou rebaixar), fortalecer (ou enfraquecer) o País que todos amamos — petistas e bolsonaristas, militares e civis, ateus e religiosos.

Já passou da hora do Presidente usar sua força e intuição política para encerrar a campanha eleitoral e comandar o Brasil, sim, no caminho da prosperidade, mas também no da pacificação nacional.

Um País é uma comunidade. Para vicejar, toda comunidade precisa de empatia, caridade e diálogo — não de berros, xingamentos e da desumanização do outro. 

Se o líder continuar envenenando o ambiente, o ar que já está pesado se tornará irrespirável.  Até para ele.