Daqui a pouco, um grupo de economistas pesos-pesados vai circular um texto de apoio a Alexandre Schwartsman, o ex-diretor do BC e hoje economista independente que o Banco Central tenta processar. Conceição

Na lista de apoio, vários ex-diretores e presidentes do BC.

A iniciativa nasceu hoje cedo, numa troca de emails entre alguns deles, depois que VEJA revelou que o BC fez uma queixa-crime contra Schwartsman, acusando-o de difamação, um delito previsto no artigo 139 do Código Penal e punível com até um ano de prisão.

Em entrevista ao Brasil Econômico de 27 de janeiro, Schwartsman disse que “o BC é subserviente e submete-se às determinações do Planalto” e “é só olhar para a gestão do BC para saber que é temerária”. Ao Correio Braziliense de 27 de abril, declarou que “o BC faz um trabalho porco e, com isso, a incerteza aumentou.”

Há alguns meses, perdia o emprego o analista que falasse mal da economia .  Agora, pode ir pra cadeia.

Mas se o BC for coerente na judiciliazação do debate econômico, terá que processar muita gente.

O economista Mansueto de Almeida compilou uma lista — breve mas significativa — de críticos do Banco Central ao longo dos últimos anos.

Em 2007, Luiz Gonzaga Belluzzo, hoje um dos conselheiros da Presidente Dilma, disse que “o Banco Central executa uma política de câmbio e juros desastrosa e incompetente”.

Criminoso, esse Belluzzo.

Ainda candidato ao Planalto em 2001, Luiz Inácio Lula da Silva acusou o BC de tentar controlar taxa de câmbio prejudicando os brasileiros.

A Folha registrou: “O presidenciável Luiz Inácio Lula da Silva (PT) disse ontem que a medida anunciada pelo governo para conter a alta do dólar é ‘uma pedrada jogada na cabeça do povo brasileiro’: ‘Um governo que resolve destinar US$ 1 bilhão por mês para garantir o não-aumento do dólar é um governo que deveria reconhecer que a nossa economia está debilitada.’”

Mansueto lembra que o BC, hoje, gasta muito mais de 1 bilhão de dólares por mês para controlar a taxa de câmbio.

Mas ninguém conseguiu ser tão veemente na crítica ao BC quanto Maria da Conceição Tavares, a decana dos economistas keynesianos.

Em 2004, Conceição Tavares, hoje professora da UNICAMP e UFRJ, disse à Folha: “Quem está sentado na Fazenda e no BC, em geral, é conservador. Daí a ser vendido, débil metal, ignorante, piranha financeira e fazer um rentismo [privilegiar os ganhos de capital, no lugar da produção] desvairado, as coisas mudam de figura.”

Disse mais. Falando dos diretores do BC (pessoas físicas), afirmou: “São um bando de falcõezinhos, que nem sabem o que estão fazendo. Depois de passarem por lá, viram banqueiros. É uma vergonha.”

***

De volta à nota de apoio: os economistas quase nunca concordam entre si, mas quando o fazem, é porque a causa é nobre.

A coluna sugere que o padrão de liberdade de expressão no País seja o ‘padrão Conceição.’

É melhor o BC lidar com críticas agudas, opulentas em deselegância, do que tentar criminalizar quem discorda dele.

Não fica bem para um País cuja chefe de Estado foi calada, presa e torturada por uma ditadura.