Seja um otimista por sua conta e risco.
A Eurasia — uma das maiores consultorias de risco político do mundo — acredita que ainda é cedo para se criar expectativas para 2021, que deve ser atormentado por riscos tanto para a estabilidade quanto para o crescimento da economia global.
Depois de um 2020 descrito pela Time como “o pior ano de todos”, a Eurasia listou o que considera os 10 maiores riscos para 2021.
O texto sugere que o caminho para a tão esperada volta à normalidade pode ser mais longo e doloroso do que a maioria das pessoas imagina (ou deseja).
Os principais riscos que estamos correndo, segundo a empresa fundada por Ian Bremmer:
GOVERNABILIDADE DE BIDEN
Joe Biden assumirá o cargo com desafios estruturais e de legitimidade nunca vistos na história dos EUA. A Eurasia acha que o cenário-base será de polarização política e desalinhamento global — ou seja: tudo que Donald Trump semeou pode ainda piorar se o governo Biden for constantemente deslegitimado pelos opositores.
A consultoria lembra que não é apenas Trump e seus apoiadores mais próximos que estão colocando em xeque a legitimidade da eleição. Cerca de 70% dos Republicanos acham que ela não foi “livre e justa”.
“Uma oposição que acredita que Biden roubou a eleição será muito mais agressiva na rejeição de suas propostas do que uma que apenas desejava que Trump tivesse ganho.”
UMA COVID MAIS LONGA
Apesar das vacinas, a Eurasia acredita que muitos países — principalmente os emergentes — terão dificuldade para conseguir vacinar em massa sua população, o que pode acabar ocorrendo apenas no final deste ano ou até mesmo em 2022.
Resultado: o ritmo da recuperação econômica vai variar bruscamente de um país para o outro, e a crise arrastada dos emergentes pode minar a recuperação ainda incipiente dos mercados desenvolvidos, diminuindo “significativamente” o crescimento global.
DESCARBONIZAÇÃO SEM COORDENAÇÃO
Os compromissos de redução de emissões de gás carbono ganharão uma relevância ainda maior no mundo este ano. O problema: essa transição energética será marcada por uma competição acirrada entre os países e por uma falta de coordenação global — com todas as consequências que isso traz.
“A discussão da mudança climática vai migrar de um playground de cooperação global para uma arena de competição global (…) E o resultado será um mundo já fragmentado se afastando ainda mais.”
TENSÃO USA-CHINA
Com a saída de Trump, a relação entre os EUA e a China não será mais de confronto aberto. Ainda assim, a Eurasia acredita que o desejo de estabilidade será sobreposto por três novos fatores subestimados pelos analistas: o transbordamento das tensões dos EUA com a China para seus aliados (já que Biden deve buscar formar uma frente ampla para combater políticas específicas da China); a competição entre os dois países para ver quem vai curar o mundo; e a competição para ver quem vai torná-lo verde.
“No balanço geral, este ano vai presenciar uma rivalidade bilateral tão intensa quanto a do ano passado, e isso é perigoso.”
QUEM MEXEU NO MEU DADO?
A Eurasia acredita que 2021 será marcado por um crescimento no protecionismo dos governos em relação aos dados de sua população.
Cada vez mais eles vão tentar controlar o fluxo de informações digitais que saem e entram de suas fronteiras — o que pode prejudicar as fundações de uma internet aberta e global e atrapalhar negócios que dependem do fluxo livre de informações.
O ANO DOS HACKERS
Os conflitos cibernéticos vão criar riscos tecnológicos e geopolíticos sem precedentes, segundo a Eurasia.
Do lado tecnológico, dois fatores vão tornar o mundo mais vulnerável: as pessoas continuarão trabalhando, estudando e socializando de casa (usando redes com menor proteção); e, com o 5G, haverá uma explosão de novos aparelhos e equipamentos conectados à internet.
Na geopolítica, a Eurasia nota que os governos não fizeram progresso no desenvolvimento de regras globais sobre como se comportar online. Em vez disso, têm insistido em estratégias que se provaram erradas, como impor sanções econômicas e o chamado “naming and shaming”. O resultado disso será um aumento nos conflitos cibernéticos entre os países.
CRISE NA TURQUIA
Outro risco para a economia global é uma crise financeira aguda na Turquia — que por pouco não ocorreu no final do ano passado. A Eurasia acredita que a solução que o país adotou foi apenas um band-aid que não vai resistir ao longo de 2021.
O presidente Erdogan passou a adotar uma política monetária mais ortodoxa, com a nomeação de uma equipe com credibilidade e medidas pró-mercado. Os mercados estão dando a Turquia o benefício da dúvida, mas este Erdogan mais racional não deve durar muito, segundo a Eurasia.
“A base política de Erdogan vai ser a mais afetada pelas taxas de juros mais altas, e a austeridade vai restringir o fisiologismo de seu partido e afetar os pequenos e médios empresários que formam a coluna vertebral do seu apoio.”
PRIMAVERA ÁRABE 2.0
Os países do Oriente Médio tiveram um ano extremamente difícil em 2020, com o colapso da demanda global pelo petróleo esvaziando seus cofres e enfraquecendo suas economias já debilitadas.
2021 pode ser ainda pior.
A Eurasia acredita que o preço do barril vai continuar baixo, mantendo a pressão em governos que já enfrentavam instabilidade mesmo antes da covid. “Muitos desses países terão que cortar despesas, prejudicando um setor privado ainda nascente e aumentando o desemprego, e os protestos devem se intensificar, reduzindo o ritmo das reformas.”
A EUROPA SEM MERKEL
Angela Merkel foi a líder mais importante da Europa nos últimos anos e desempenhou um papel crucial em manter a unidade da região durante a pandemia. O fim de seu mandato como chanceler da Alemanha é portanto o maior risco para o futuro da União Europeia, segundo a Eurasia.
Depois de deixar a presidência do conselho da UE no final do ano passado, Merkel agora deve focar em garantir a vitória para seu partido nas eleições de setembro, deixando Emmanuel Macron sozinho no centro do palco da Europa. “O presidente francês não terá a mesma capacidade de liderar a UE, e a região enfrentará muitos desafios.”
O SEGUNDO PERDEDOR
Na América Latina, a Eurasia diz que a ampla disponibilidade de vacinas não deve ocorrer antes do segundo semestre e que os países da região estão extremamente mal posicionados para lidar com outra onda de covid.
O resultado: quando a América Latina finalmente emergir da pandemia, vai enfrentar problemas políticos, sociais e econômicos ainda maiores que antes da crise.
“O Oriente Médio é obviamente o maior perdedor do mundo na crise do coronavírus. Mas a América Latina é claramente o segundo.”
Jair Bolsonaro concorda. O Presidente disse hoje que “o Brasil está quebrado. Eu não consigo fazer nada.”
Feliz Ano Novo.