Décadas de investimento em pesquisa, ciência e tecnologia marcam a história do Estado de São Paulo, com sucesso em importantes áreas. No entanto, a tradução disso em inovação e ganhos de produtividade nas empresas está aquém de nossas potencialidades.

Inovação é uma decisão econômica que sofre a influência de vários fatores, para começar o grau de estabilidade macroeconômica, o ambiente de negócios e a concorrência nos mercados, onde a maior responsabilidade é do governo federal. E muitas vezes falta às empresas maior compreensão da importância da inovação na estratégia competitiva.

Há, porém, espaço para políticas do governo estadual no sentido de consolidar o complexo e estratificado ecossistema de inovação de São Paulo, composto por um conjunto de universidades, institutos de pesquisa, parques tecnológicos, centros de inovação tecnológica, incubadoras e startups.

Não se trata de traçar um grande planejamento de longo prazo – é praticamente impossível antecipar de forma satisfatória a evolução da fronteira científica e tecnológica – mas sim de criar regras que promovam um ambiente propício à inovação, um ecossistema capaz de responder a novos desafios, inclusive às encomendas tecnológicas do governo.

Para isso, é necessário um maior alinhamento entre a pesquisa acadêmica e as necessidades da sociedade e do setor privado; o aprimoramento das atividades de cada célula ou órgão do ecossistema; a exploração de suas vantagens competitivas; e maior articulação e sinergia entre os atores de inovação – Poder Público, órgãos de pesquisa e setor privado.

O bom funcionamento do ecossistema é uma condição necessária, mas longe de ser suficiente, para dar escala à inovação e garantir sua difusão. São necessárias fontes mais perenes e abundantes de recursos. O caminho para isso é criar condições favoráveis para a atração do capital privado ao financiamento à inovação, em complementação aos recursos públicos, necessários por conta do alto risco inerente à atividade.

A elevada liquidez nos mercados financeiros e a busca por diversificação de carteiras representam oportunidade para a maior presença do capital privado – senão agora por conta da elevada taxa Selic, em breve.

Além disso, há crescente interesse de agências governamentais e multilaterais em financiar projetos associados ao desenvolvimento sustentável. Um modelo de junção de capital ajudará a criar muitos mecanismos de mercado de capitais, com atração de capital de impacto – mais propenso ao risco e/ou mais paciente em termos de prazo (“blended finance”) – para equity ou financiamento. O maior fluxo de recursos será importante estímulo para a oferta de projetos competitivos de inovação, o que envolve a formação de mão de obra técnica especializada que consiga transformar pesquisa em negócio, peça-chave da inovação.

Para tanto, vários elementos precisam estar presentes, a começar por um ambiente jurídico seguro e moderno, e governança sólida. Há estudos sobre isso. São alicerces para avanços em outras frentes. Nessa linha, julgamos necessária uma iniciativa de avaliação e validação dos projetos direcionados ao mercado privado, inclusive de startups, com foco em resultados tangíveis e orientados por prazos, exercendo controle rigoroso da evolução de seu progresso.

Mediante anuência de seu Conselho Superior, a FAPESP – Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo poderá cumprir este papel por meio de parcerias com Núcleos de Inovação Tecnológica e institutos credenciados, bem como um conselho de especialistas, inclusive estrangeiros.

Uma plataforma com gestão privada e profissional deverá habilitar os institutos com expertise e prover a necessária segurança a empresas e investidores que não conseguem avaliar adequadamente o risco-retorno dos projetos. A Fapesp poderá também atuar como consultor técnico para o investidor privado.

Governança, projetos de qualidade e compartilhamento de risco. Esse é o caminho para despertar o interesse da Faria Lima por inovação e elevar a produtividade das empresas. Todos ganham.

Zeina Latif é Secretária de Desenvolvimento Econômico do Estado de São Paulo.  A autora agradece as contribuições do Prof. Carlos Pacheco, Diretor-Presidente do Conselho Técnico-Administrativo da FAPESP.