Eduardo Bolsonaro entrou para a história do Brasil ao eleger-se deputado federal com 1.843.735 votos, o mais votado de todos os tempos. Embora esse “fenômeno” seja reflexo do que há de mais velho na política — clãs familiares ocupando cargos eletivos e expandindo seus tentáculos na administração pública — o feito é notável.
 
Antes mesmo da posse de seu pai, no entanto, Eduardo virou as costas para aqueles que o elegeram e voltou suas ambições para o exterior, realizando diversas viagens internacionais e preparando o terreno para uma saída mais duradoura. E, assim que completou 35 anos, a idade mínima constitucional para o exercício do cargo de Embaixador, recebeu um mimo do Capitão: ser indicado para assumir a embaixada mais importante do país, em Washington.
 
Outro exemplo do que há de mais velho na política: pais beneficiarem seus filhos através da coisa pública. E, para piorar, o Presidente ainda declarou publicamente que seu objetivo é sim beneficiar o próprio filho, o que em si já configuraria o chamado “desvio de finalidade”.
 
Ainda que, formalmente, de nepotismo não se trate, mesmo para o exercício de cargos políticos não se abdica da existência de atributos para o exercício do cargo. A confiança absoluta não basta! A diplomacia nesse nível pressupõe notórios conhecimentos de política internacional, amplos relacionamentos e, sobretudo, profundas habilidades de negociação.
 
Eduardo nada tem de diplomático, haja vista ter aventado até mesmo o fechamento do STF por “um cabo e um soldado”. Para alçar voos internacionais é preciso, primeiro, respeitar a Constituição Federal e os poderes brasileiros. A destreza em fritar hambúrgueres não o credencia.

Os exemplos de velha política, contudo, não param por aí. Eduardo autoproclamou-se o “cacique” do PSL em São Paulo, contra a democracia partidária prevista no estatuto e contra a recomendação do TSE para que as comissões provisórias sejam convertidas em diretórios definitivos. Embora, ao proclamar-se presidente do PSL em São Paulo, tenha recebido uma herança maldita do presidente anterior, Major Olímpio, manteve a falta de transparência nas contas partidárias, que não foram prestadas por número significativo de comissões provisórias municipais.

Um grupo de deputados federais do PSL, do qual fiz parte, tentou, democraticamente, participar da Comissão Estadual sem sucesso. Exigimos que fossem feitas eleições democráticas, nos termos do estatuto do PSL, sem sucesso. Exigimos que as contas partidárias não prestadas fossem apresentadas, para quitar o passado e seguir o futuro, sem sucesso. Quem não respeita sequer a democracia dentro do próprio partido não tem atributos para exercer o cargo de Embaixador em Washington.

As relações diplomáticas não se confundem com amizades pessoais. Nisso, mais uma vez, Eduardo Bolsonaro espelha a velha política. As relações do Brasil com outros Estados são pautadas pelo art. 4º da Constituição Federal. Um dos princípios, ali contido no inciso V, é o da “igualdade entre os Estados”. A relação de Eduardo com os EUA é de subordinação e não de independência.
 
Eduardo Bolsonaro deve honrar os 1.843.735 votos de confiança que recebeu e continuar exercendo as funções de Presidente Estadual do PSL em São Paulo, já que repeliu a participação democrática de seus colegas de Câmara Federal que se dispuseram a isso. A Constituição Federal, sobretudo, deve prevalecer diante do desejo de realizar novo intercâmbio no exterior, desta vez em grande estilo.
 
Sendo as relações entre Brasil e Estados Unidos, como de fato são, tão importantes, inegável o prejuízo ao país diante do fato de Washington permanecer sem embaixador à espera dos 35 anos de Eduardo. O Brasil está acima de tudo, inclusive dos benefícios familiares e das ambições pessoais.
 
Alexandre Frota é deputado federal pelo PSL.