Em 1995, numa de minhas campanhas para deputado federal, fiz uma promessa que ainda me encanta e atormenta até hoje: trabalhar pela construção de uma linha de metrô ligando o Rio de Janeiro a São Gonçalo, passando por Niterói.

Para quem não sabe, o município de São Gonçalo tem cerca de 1 milhão de habitantes, muitos dos quais trabalham no Rio, do outro lado da Ponte. (Somando municípios adjacentes, a população passa de 2 milhões.)

A obra ainda não saiu do papel, mas ao longo dos últimos anos tentei educar diversas lideranças políticas sobre a relevância deste projeto, que certamente seria a maior obra social do Brasil desde a transposição do rio São Francisco.

Ao chegar a São Gonçalo, o metrô melhoraria a vida de centenas de milhares de pessoas que acordam todos os dias às 5 da manhã para conseguir chegar no trabalho, e que hoje precisam cruzar a Ponte Rio-Niterói de ônibus, torcendo para que um acidente não paralise tudo.

Este projeto — a chamada Linha 3 do metrô do Rio — não é uma invenção minha. Ele está no plano diretor da cidade, aprovado ainda nos anos 70, há mais de 50 anos. 

Mas como pobre não tem lobista, infelizmente a ideia nunca andou para frente.

Em 1999, consegui com o Presidente Fernando Henrique Cardoso, meu amigo e colega de partido, cerca de US$ 3 milhões para o BNDES encomendar um estudo técnico de viabilidade econômico-financeira. 

Na época, a americana Parsons Brinckerhoff e a Noronha Engenharia ganharam a concorrência e fizeram o estudo, provando que o projeto não só é viável como traria um benefício gigantesco para os moradores de São Gonçalo e Niterói.

A nova linha reduziria o deslocamento de São Gonçalo até a Zona Sul do Rio das três horas de hoje para menos de uma hora — e isso sem precisar de nenhuma desapropriação, com um túnel que passaria debaixo da baía da Guanabara.

Na época, a estimativa é que a demanda seria de mais de 600 mil passageiros por dia, um número que já deve ser muito maior hoje. 

A nova linha de metrô traria outros benefícios indiretos, levando mais desenvolvimento para essas cidades e permitindo que muitas pessoas possam sair das favelas e morar em regiões mais distantes da Zona Sul, com programas de habitação popular.

Mesmo com o estudo, a resistência na época foi enorme. 

Poucas pessoas acreditaram na viabilidade do projeto e chegaram a me chamar de louco, dizendo que se tratava de uma obra faraônica – o que prova que os críticos não entendiam nem de obra, nem de faraós. 

Esses críticos eram os mesmos que, desafiados a estimar a distância entre o Rio e Niterói, chutavam “ao redor de 15 quilômetros”, quando na verdade a distância entre o Centro do Rio e Niterói em linha reta não chega a 3 km — uma obra de engenharia relativamente simples.

De lá pra cá, por exemplo, o Governo construiu sem grandes dificuldades o Túnel Marcello Alencar, que conecta a Rodoviária do Rio ao Aterro do Flamengo e é oito vezes maior do que seria o túnel da linha 3. 

Passei os últimos 20 anos brigando por essa pauta, chegando a ter conversas com os presidentes Dilma Rousseff e Jair Bolsonaro.

Por tudo isso, a notícia que saiu recentemente de que o Governo retomou o projeto da linha 3 e pretende licitá-lo até o final do ano me enche de alegria, esperança e orgulho.

Na semana passada, a Coppe, da UFRJ, iniciou os estudos técnicos da nova linha, que além de Niterói e São Gonçalo vai chegar também a Itaboraí, aumentando ainda mais seu impacto.

O novo estudo — viabilizado por meio de emendas parlamentares — vai atualizar o estudo da Parsons, provavelmente com novos métodos construtivos, materiais e equipamentos. Mas o resultado não deve ser muito diferente.

Nos próximos anos, quero ver esse sonho antigo se tornar realidade.

A linha 3 do metrô é o grande projeto estruturante da região metropolitana do Rio — levando dignidade a pessoas que acordam cedo e trabalham duro — e potencializando o crescimento econômico da região.

Ronaldo Cezar Coelho é empresário, ex-Secretário de Saúde da cidade do Rio de Janeiro, ex-Secretário de Indústria e Comércio do Estado do Rio, e deputado federal por quatro mandatos.

 

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