As pessoas que nasceram após a década de 1980 dificilmente se lembrarão do cenário econômico mundial e de Paul Volcker, o ex-presidente do Federal Reserve que fazia o planeta tremer quando anunciava aumentos na taxa de juros de até 20% para conter a inflação descontrolada que corroía a economia norte-americana, impactando de forma exorbitante a dívida externa de muitos países emergentes, principalmente os da América Latina, como o Brasil. Uma situação econômica completamente oposta à que vivemos nos últimos 20 anos.

Em escala macro – não nos detalhes, causas e consequências, pois estes são sempre diferentes -, a história se repete e os ciclos de crise, resolução e acomodação voltam a acontecer. Assim, com efeitos similares a um pós-guerra, o momento pós-pandemia da covid tem se dado com três ondas de grande impacto: a primeira, na saúde; a segunda, na esfera emocional e psicológica; e a terceira, na economia.

As vacinas demonstraram sua eficácia, reduzindo significamente o número de óbitos por covid. No entanto, ainda não conseguimos desenvolver medicamentos e tratamentos eficazes para cuidar das pessoas infectadas. Além disso, temos um cenário de imunização muito desigual entre os países e regiões do mundo e o vírus, como sabemos, não respeita fronteiras. Já no campo psicológico e emocional, situações completamente inesperadas e extremas de medo, sofrimento, luto, exaustão e isolamento provocaram efeitos brutais na saúde mental da população mundial, gerando impactos psicológicos que tendem a atravessar gerações.

Do ponto de vista econômico, a pandemia gerou uma paralisação dos mercados, demissões em massa e desorganização das cadeias globais de produção. Somado a isso, a guerra entre Ucrânia e Rússia, além de ser uma tragédia humanitária e um risco à segurança global, continua acentuando a pressão inflacionária, especialmente de alimentos e combustíveis.

Longe de querer ser pessimista, pois quem me conhece sabe que sou um otimista convicto, vejo que os próximos anos, provavelmente, serão formados por uma composição extremamente desafiadora de inflação crescente, juros altos e redução da atividade econômica global. Essa situação afetará todas as economias, porém com um impacto certamente maior nos mercados emergentes, nos quais itens básicos, como alimentos e energia, têm um peso maior na cesta de consumo da população, em especial na das pessoas mais vulneráveis.

Qual seria a solução? Propor uma saída a esta altura seria, no mínimo, precipitado. Afinal, não existem respostas simples para problemas complexos. A solução se dará por diferentes caminhos. Um deles, que pode nos auxiliar a resolver esta equação, é a promoção de encontros geracionais. Talvez seja a hora de escutar os chamados “cabeças brancas” e valorizar a experiência das pessoas que enfrentaram as grandes crises com êxito.

Os cabeças brancas normalmente detêm habilidades conquistadas ao longo do tempo e das vivências. A primeira delas é a tomada de decisão rápida e, muitas vezes, assertiva, fruto de experiências acumuladas. Em seguida, vem a soma de equilíbrio, ousadia e liderança que é indispensável em momentos de grandes desafios.

Um exemplo contemporâneo é Jerome Powell, pupilo de Volcker, à frente do Fed desde fevereiro de 2018.

Sua bagagem profissional foi crucial para que pudesse tomar medidas que ultrapassariam, pela primeira vez, barreiras históricas impostas pelos EUA. Há quem diga que ele também terá um lugar no panteão dos presidentes do Fed graças ao trabalho que fez no início da crise gerada pelo coronavírus, quando reconheceu rapidamente a devastação econômica que a pandemia causaria e respondeu com uma política monetária na mesma proporção do impacto que estávamos vivendo.

Mesmo com todas as ações tomadas durante a pandemia para mitigar os impactos, temos no horizonte um cenário econômico global de baixo crescimento, escassez de produtos e inflação crescente, que ainda nos pedirá coragem para adotar medidas econômicas austeras, como o aumento dos juros e redução do crédito, inclusive para empresas bem estruturadas.

Porém, um dos diferenciais a ser considerado é que temos hoje a nosso favor uma inovação tecnológica sem precedentes, o que facilita a realização de trocas instantâneas de informação, debates temáticos, organizações sociais que extrapolam fronteiras e deliberações que não só vão além do antigo modelo estatal, mas o desafiam a considerar novos atores e formas de agir em suas estruturas, apontando (por que não?) para um novo tipo de organização social capaz de encontrar soluções disruptivas com impacto internacional em áreas como economia, combate à pobreza e meio ambiente.

Por isso, reforço: é hora de reunir a inovação social e tecnológica com o know-how dos cabeças brancas, que combateram cenários tão desafiadores como o que está por vir. É tempo de somar e incluir experiências, vivências e conhecimentos, de desconstruir falsos dilemas como “Devemos escolher o desenvolvimento social ou o econômico?” e substituir o “OU” pelo “E”.

É preciso buscar soluções ambidestras, soluções que compreendam que só podemos ter de fato um desenvolvimento sustentável no longo prazo se os pilares econômico, social e ambiental forem desenvolvidos de forma integrada, com inovação e cooperação entre as partes e com as melhores cabeças de ontem, de hoje e do amanhã pensando e agindo em conjunto. Cabeças brancas e pretas, a responsabilidade é de todos nós e a oportunidade de construirmos um futuro sustentável para as próximas gerações é agora. Vamos juntos!

David Feffer é presidente do conselho de administração da Suzano.