Uma tempestade econômica não se forma de uma hora pra outra.
Pouco a pouco, os investidores globais estão reconhecendo que o ciclo de alta da Bolsa americana — que já dura 10 anos — está chegando ao fim, e que os EUA, mais dia menos dia, vão entrar numa esperada e necessária recessão.
A situação é parecida em todo o mundo. A economia global está esfriando, exibindo indicadores cada vez mais frágeis: ontem, foram as vendas no varejo americano que desapontaram.
Para piorar, o Presidente Trump resolveu bater de frente com a China para conseguir concessões comerciais. É bem possível que ele tenha razão no mérito, mas neste momento a escalada da “guerra comercial” aumenta a incerteza e congela investimentos, retroalimentando a desaceleração global.
Se um CEO americano não sabe por quanto tempo os produtos “made in China” serão sobretaxados, ele não sabe onde encomendar seu próximo pedido nem onde colocar sua próxima fábrica.
Com tudo isso, o título do Tesouro americano — o investimento mais seguro do mundo — tem cada dia mais compradores. O título de 10 anos rompeu ontem (para baixo) a barreira de 2,4%, indicando que o capital está buscando um chalezinho onde se proteger da tempestade que provavelmente se avizinha.
A festa do crescimento está chegando ao final, e a música vai parar. Esta é uma realidade objetiva e tão inexorável quanto o próprio ciclo econômico. Pegue sua sombrinha. Vai chover.
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Uma tempestade política não se forma de uma hora para outra.
No Brasil, o Governo recém-eleito já gastou boa parte de seu capital político — infelizmente, com assuntos irrelevantes para o futuro do País. Do “golden shower” ao Homem do Ano, de ter que “explicar o Queiroz” ao porte de armas para caçadores.
No Brasil tudo urge, menos o essencial.
Os problemas de governança são conhecidos: os filhos que, próximos demais do Poder, tumultuam a mensagem; o guru que aumenta o ruído; a ideologia no lugar do pragmatismo; a improvisação no lugar do planejamento; a eterna resenha do passado no lugar da visão de futuro. E, recobrindo tudo, a falta de tato político, convicção intelectual e preparo para tocar uma máquina pública densa, complexa e caprichosa.
Por enquanto, o empresariado e o mercado financeiro têm feito um silêncio obsequioso toda vez que o Planalto produz uma insanidade.
Até certo ponto, este silêncio é o que o próprio Presidente chamaria de “patriótico”. Primeiro, porque um governo recém-eleito merece um voto de confiança e algum tempo para que comece a mostrar resultado. Segundo: porque todos queremos que o Brasil dê certo, que o Congresso passe as reformas, que haja crescimento e emprego. E é por isso que todos apoiam Paulo Guedes — o pau que sustenta a barraca. O menos engajado parece ser o próprio Planalto, pelas razões já mencionadas — e que, tragicamente, parece que não vão desaparecer.
Mas às vezes, o patriotismo está em alertar. Calar-se frente ao desastre iminente é apenas fonte de remorso mais adiante.
O mesmo empresariado e o mesmo mercado financeiro ainda se lembram como Dilma, a Insana, implodiu o Tesouro Nacional e o BNDES com sua Nova Matriz Econômica. Sua soberba voluntariosa quebrou o país, e a sociedade só acordou quando era tarde demais.
Convém não repetir a farsa: eles fingem que sabem o que estão fazendo, e nós fingimos que está tudo bem.
Dilapidando a esperança depositada nele por muitos, Bolsonaro está se tornando uma Dilma de calças — não por achar que entende de economia, mas por subestimar as competências, a disciplina e o foco que um País como o Brasil requer. Se “o Brasil não é para principiantes”, administrar ele então…
No quinto mês de governo, a sociedade continua polarizada, o crescimento desliza para baixo, o Executivo se auto sabota, e agora tem povo na rua.
Resta rezar para que nossa tempestade política não coincida com a tempestade global. Mas em vez de rezar, talvez seja melhor fazer alguma coisa.
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