Na última semana, viralizou o trecho de um vídeo no qual Fernando Haddad, até então o principal nome para assumir o Ministério da Fazenda, aparecia dizendo:

“(…) Quero também registrar que, apesar de eu dar uns pitacos em economia de vez em quando, eu estudei dois meses de economia, que foi para passar no exame da ANPEC. Depois eu não estudei mais. Eu colava um pouco do Alexandre Schwartsman, do Naercio Menezes para passar. Então eu tenho dois meses de estudo no meu escritório de advocacia, passei na ANPEC e é mais ou menos o que eu domino (…)”.

Retirado de um debate no Insper entre Haddad e Marcos Lisboa, o vídeo foi usado para atacar Haddad como um neófito em economia e, ato contínuo, prever a bancarrota do Brasil, o esporte mais popular dos últimos dias.

Mas a verdade é que o trecho usado para ridicularizar o futuro ministro era apenas a primeira fala de Haddad no debate – um ‘disclaimer’ natural por parte de alguém prestes a debater com um dos maiores economistas do país.

O que o vídeo mostra, em sua totalidade, é Haddad escutando, contrapondo e pontualmente revendo seu ponto de vista diante de evidências apresentadas por Lisboa — uma capacidade de diálogo essencial para quem vai ocupar o cargo conhecido como “o pior emprego do mundo.”

Saber mudar de opinião à luz das evidências é essencial para todos nós, mas na política, é a diferença entre vida e morte. Foi a insistência de Dilma no modelo desenvolvimentista (e suas consequências) que levou o Brasil a uma recessão histórica, e ela ao impeachment. E foi a insistência de Bolsonaro na cloroquina e na negação da pandemia, provavelmente, o que decidiu sua derrota na tentativa de reeleição.

Além disso, ao contrário do que sugere quem editou o vídeo, não há problema em Haddad não ser um grande economista.  Ainda que possa haver ministros técnicos, um ministro político – do mesmo partido e com uma lealdade ao Presidente acima de qualquer suspeita – pode ser infinitamente mais eficaz do que um técnico, justamente por ter história e capital político junto ao chefe.

O importante é Haddad conseguir ser um bom tradutor dos tradeoffs da política econômica que será formulada pelo corpo técnico do ministério, e, neste tema, ele parece estar se cercando de gente da melhor qualidade.

Nomes como Bernard Appy, que participou do primeiro Governo Lula, e Marco Bonomo trariam uma visão racional à formulação de políticas e, se confirmados, serão celebrados pelo mercado.

Haddad também possui um canal aberto com economistas considerados liberais, como os próprios Lisboa, Schwartsman e Menezes.

É verdade que as notícias vindas da equipe de transição preocupam – se tivermos sorte, “transição é transição, jogo é jogo” – e que os sinais fiscais emitidos pelo Governo eleito são péssimos.

Mas o mercado deveria começar a interpretar a escolha de Haddad para além da superficialidade dos memes. Apesar do baixo astral geral, este foi um começo coerente, que pode se mostrar muito melhor do que a crítica precoce.

Eduardo Inojosa é advogado de formação e mestrando em economia no Insper.