O exercício de projetar o crescimento do PIB do Brasil tem sido especialmente frustrante nos últimos três anos. Após vivermos, em 2015-16, uma recessão só comparável à experimentada por diversos países em 1930-31, ou a eventos de guerra, ou devastação por pestes medievais, o país parecia em vias de aprovar, em 2017, a reforma da previdência. 
 
As variáveis cíclicas deprimidas, propensas a experimentar forte recuperação, e o choque de confiança que adviria da aprovação da reforma eram a combinação irresistível que faria o PIB crescer mais de 3%, vaticinaram, à época, diversos economistas – incluindo o autor deste texto. Não tendo sido possível este resultado, em função dos eventos que desestabilizariam para sempre o Governo Temer, aquilo seria verdade em 2018, diriam mais tarde os economistas. 
 
Novamente, a projeção não se concretizou. Desta vez, o motivo da falta de crescimento foi atribuído à greve dos caminhoneiros e à incerteza eleitoral, dentre outros choques.
 
Mas a perspectiva de um novo governo, com orientação econômica liberal (e, sempre ela, a aprovação da reforma da previdência) faria com que a confiança finalmente se elevasse e imprimisse crescimento de 3% ao PIB em 2019.
 
Em 2017 e 2018, a economia brasileira cresceu em torno de 1%, variação que deverá se repetir em 2019. O post mortem desta longa sequência de frustrações sugere que diversos fatores concorreram para este resultado adverso. Esta lista é longa e não será detalhada aqui, mas o motivo essencial parece residir no fato de que o processo de substituição do gasto e crédito públicos por suas contrapartes privadas é mais lento do que o imaginado anteriormente, talvez em função da sequência de frustrações no retorno dos investimentos acumuladas nos últimos anos, dentro do atual contexto de retração global de investimento.
 
Dito isso – e correndo, de novo, o risco de estarmos mais uma vez errados – estamos bastante otimistas com o desempenho da economia à frente.
 
Nosso argumento central envolve a dinâmica do crédito à pessoa física e do mercado de trabalho. Estas duas variáveis são, historicamente, as mais importantes determinantes do consumo das famílias (que representa 2/3 do PIB), e ambas têm mostrado bom desempenho. 
 
A concessão de crédito à pessoa física, estimulada pela queda dos juros e pelo baixo nível de endividamento familiar, tem crescido de forma acelerada e está em seu nível real máximo observado na série.
 
Já a massa salarial real tem crescido a uma taxa de 3% nos últimos trimestres, puxada especialmente pelo emprego informal e de autônomos. Nossa suspeita é que o mercado de trabalho pode estar retratando o ritmo real da economia  de forma mais fidedigna do que a própria medida de PIB — que, por utilizar estratificações relativamente estanques de atividades em suas pesquisas do lado da oferta, pode estar deixando de capturar uma parte importante da renda gerada por empresas que oferecem serviços que não existiam há apenas poucos anos atrás. 
 
Já a PNAD (pesquisa nacional por amostragem domiciliar, que apura o mercado de trabalho) captura esta renda, na medida em que os trabalhadores inseridos nesta “nova economia” fazem parte de sua amostra, que cobre, trimestralmente, mais de 200 mil domcílios pelo Brasil.
 
Desta forma, diferentemente de anos anteriores, nossa projeção para o crescimento do PIB em 2020 está lastreada não no efeito indutor de um choque de confiança, mas no desempenho corrente e prospectivo dos dois maiores determinantes do consumo das famílias. Ainda que eventuais revisões formais das séries do lado da oferta possam tardar, a dinâmica mais favorável da renda tenderá a elevar as medidas de atividade por esta ótica, se nossa suspeita estiver correta.    
 
Em adição a este diagnóstico, qualquer que seja o verdadeiro ritmo atual de crescimento do nível de atividade, existem outras razões concretas para antever que ele se acelerará, no curto prazo. A liberação de R$ 40 bilhões em contas do FGTS nos próximos seis meses contribuirá para registrarmos crescimento de 0,9% no 4o trimestre deste ano, de acordo com nossas estimativas. Além disso, após ter garantido a convergência das expectativas de inflação à frente, o Banco Central sinalizou, com sua última decisão de política monetária, que pretende posicionar a taxa real de juros em torno de 1% em 2020, nível que deverá contribuir para a aceleração do crescimento no próximo ano.
 
Finalmente, o curso de ação escolhido pelo Ministro Paulo Guedes e sua equipe – verdadeiramente liberal, pró-crescimento e na direção de um estado menor – difere marcadamente de todas as administrações federais desde a redemocratização do país, em 1989, com a possível exceção do governo Collor. 
 
Por mais que este modelo potencialize o crescimento no longo prazo, no entanto, ele não garante a rapidez na resposta da economia. Mas, se nossa suspeita estiver correta, o ministro poderá não apenas se surpreender com o quadro em 2020, como também descobrir que a realidade da economia já é mais positiva do que aparenta à primeira vista.
 
Quais são os riscos? Os últimos anos mostraram que, no Brasil, eventos imprevisíveis muitas vezes mudam o curso de acontecimentos que pareciam, em princípio, bastante prováveis. Excluindo esta possibilidade, nosso entendimento é de que a fragilidade do ambiente global é o maior risco à nossa projeção de que a economia brasileira crescerá a um ritmo de 2,5% ou mais em 2020 e à frente.
 
Pedro Jobim é sócio-fundador da Legacy Capital e PhD em economia pela Universidade de Chicago.