O campo bolsonarista teve uma de suas piores semanas, com a descoberta de um plano para matar Lula e dar um golpe.
Apesar deste percalço, é inevitável que a direita tenha um candidato em 2026.
A questão é se saberá ganhar a eleição.
Reflita comigo: por que deputados e senadores da direita, campeões absolutos de votos em 2022, não conseguiram repetir o sucesso no Executivo, ou com seus aliados agora em 2024? A resposta é simples: eles pregam para convertidos.
São mestres em mobilizar seus fiéis seguidores, capazes de garantir uma boa votação e, quem sabe, levar o candidato ao segundo turno. Mas lá, invariavelmente, morrem na praia.
E sabe por quê? Porque não sabem aglutinar.
Não sabem falar para fora de sua bolha.
Não conseguem seduzir o centro flutuante.
Deixe-me revisitar algo óbvio, mas que a direita insiste em ignorar: o eleitorado é basicamente dividido em três terços.
Um de direita, um de esquerda, e um centro que flutua de acordo com quem souber vender o melhor discurso. Nem a esquerda nem a direita mudam muito de posição – seus votos são cativos. O jogo é decidido no centro.
E o centro, meus amigos, não é conquistado com gritaria ou ideologia fervorosa.
É atraído com pragmatismo, mensagens simples e sedutoras, que falam diretamente às dores e esperanças do dia a dia. É aí que a direita falha miseravelmente: falta a malícia de quem entende que a política não é sobre estar certo, mas sobre ser escolhido.
Não adianta chorar sobre as urnas de 2022 ou brincar de negação eleitoral.
A esquerda tem a máquina, a narrativa e um talento raro: fazer campanha como quem luta por sobrevivência. O POBRE (80% do Brasil).
A DIREITA? Muitas vezes parece um clube de debate que nunca saiu do WhatsApp.
Se quiser vencer em 2026, é preciso ser insensível, pragmática e esquecer sentimentalismos. Vamos ao raio-X dos deveres de casa.
1- Ou unifica, ou morre na praia.
Resumo: divisão é suicídio.
A direita precisa parar de brincar de “reino dividido”.
Se cada ego quiser seu próprio pedestal, o trono vai ficar com a esquerda, mais uma vez. Veja o caso de São Paulo em 2024: Ricardo Nunes contra Pablo Marçal. Enquanto a direita luta pelo troféu de maior “puro-sangue ideológico”, a esquerda agradeceu e comeu pipoca.
Para 2026, não há escolha: UM ÚNICO CANDIDATO.
Alguém que una bolsonaristas, liberais, evangélicos, agro e a ala “low profile” do Centrão. Se não gostarem, que ENGULAM. Não é sobremesa, é remédio.
Política não é retiro espiritual.
2- O vice é o coração da campanha, e deve ser do Nordeste.
Um vice de peso, mas que não ofusque.
A esquerda entendeu isso com maestria em 2022: Lula e Alckmin, a improvável dupla que blindou o PT dos ataques ao “radicalismo”. Aproveite e lembre também do saudoso José Alencar.
A direita tem que pensar estrategicamente. Não fazer como Bolsonaro, que colocou um general como vice.
O vice precisa ser do Nordeste, o reduto que a esquerda domina e onde qualquer avanço faz diferença. Além disso, deve ser alguém moderado, com carisma simbólico e marketing poderoso – mas sem brilho próprio que ofusque o cabeça de chapa.
3- Batalha ganha é a que não se luta: STF e imprensa.
Resumo: não compre brigas que você não pode vencer.
Ataque gratuito ao STF e à imprensa?
Um tiro no pé que a direita já deu dezenas de vezes.
É hora de aprender com os mestres: Lula e Temer. Ambos mantêm a aparência de harmonia institucional e deixam as pancadas para os bastidores.
A direita precisa fazer igual: parar de dar manchetes escandalosas para os jornais e evitar virar abertura no Jornal Nacional.
Trate o STF com respeito público, mesmo que o ranço seja grande.
É assim que se conquista o centro e desarma armadilhas.
4- O melhor time de marqueteiros que o dinheiro puder comprar.
Campanha se ganha com a cabeça, não com emoção.
A campanha de 2026 começa agora.
O que a direita precisa não são amadores, mas especialistas em marketing digital e eleitoral. Alguém capaz de transformar um candidato insosso em campeão do TikTok.
Ricardo Nunes (SP) e Fuad Noman (BH) são exemplos vivos de candidatos que ganharam sendo “postes” com as campanhas certas.
A direita precisa fazer o mesmo.
Chega de amadorismo e de apostar em “gênios” que só sabem gerar engajamento negativo.
5- Populismo sem medo: diga o que o povo quer ouvir.
Se for para perder com campanha limpinha, nem entre no jogo. Campanha bonitinha não ganha eleição.
Se quiser bancar o João Amoedo ou Henrique Meirelles, melhor nem sair de casa.
O povo quer soluções mágicas, promessas gordas e discursos fáceis.
Se isso não estiver na cartilha, a esquerda agradece pela vitória.
As pautas? Não são o que o candidato quer discutir, mas o que as pesquisas qualitativas apontarem.
Se o povo quer falar de preços no mercado, fale de preços no mercado. Se quer se revoltar com “mamatas,” entregue narrativas fáceis e diretas.
Depois resolvemos no mandato, relaxe.
Eleição não perdoa amadores
A esquerda joga pesado, e quem acha que dá para vencer com discursos bonitos vai virar rodapé da história. A direita tem as ferramentas, mas precisa abandonar a autofagia e aprender com quem ganha.
A pergunta que fica é: a direita quer vencer ou vai continuar brincando de principados fragmentados, com cada um achando que é rei?
Roberto Reis é um consultor eleitoral com 25 anos de experiência em campanhas em todo o Brasil.