Depois de três trimestres queimando caixa, a Oncoclínicas voltou a reportar free cash flow positivo — um resultado que o CEO Bruno Ferrari diz ser um ponto de inflexão para a rede de clínicas oncológicas.
No terceiro tri, reportado agora há pouco, a companhia teve uma geração de caixa livre — depois do capex e do pagamento dos juros das dívidas — de R$ 23 milhões, em comparação a uma queima de R$ 359 mi no segundo tri, de R$ 283 mi no primeiro tri e de R$ 319 mi no quarto tri do ano passado.
“É uma reversão muito forte, um ponto de inflexão que marca um novo momento da companhia,” Ferrari disse ao Brazil Journal. “Concluímos um ciclo de crescimento muito vigoroso nos últimos anos e agora esse investimento está virando resultado. A tendência é que o capex continue caindo e que haja um aumento da receita.”
Parte da melhora na geração de caixa livre teve a ver com a redução do capex, com a Oncoclínicas chegando na fase final de grandes projetos como a expansão de seu cancer center no Rio e de sua clínica flagship em São Paulo. No trimestre, a companhia teve um capex de R$ 54 milhões, em comparação aos R$ 86 milhões do trimestre anterior.
A empresa também viu uma redução relevante das despesas com juros, depois de ter levantado R$ 1,5 bilhão num aumento de capital concluído no segundo trimestre.
Com os recursos, ela reduziu seu endividamento, e as despesas financeiras caíram quase pela metade em comparação ao pico, ficando em R$ 86 milhões no trimestre.
A Oncoclínicas também se beneficiou da reversão de provisões que havia feito para ‘glosas’ (quando o plano de saúde rejeita parte da fatura) e PDD — o que foi possível por conta da aceleração do recebimento de recursos devidos.
O CFO Cristiano Camargo disse que historicamente a companhia sempre operou com um nível de ‘glosa’ e PDD de 2% a 2,5% da receita. “Mas nos últimos trimestres vimos um aumento grande da ‘glosa’, com os planos usando isso para melhorar seu capital de giro,” disse ele. “Mas no final conseguimos recuperar esses valores, o que gerou essa reversão das provisões.”
No primeiro tri, o nível de glosa e PDD chegou a bater em 3,8%. No terceiro tri, caiu para 0,5% por conta das reversões.
Cristiano disse ainda que a companhia viu uma melhora nos seus prazos de recebíveis e nos ‘dias líquidos de capital de giro’, com a situação desafiadora dos planos de saúde dando os primeiros sinais de melhora.
O prazo de recebíveis ficou em 111 dias, em comparação aos 118 dias no primeiro tri e 108 dias no segundo. Já os ‘dias líquidos de capital de giro’ ficaram em 49 dias, contra 59 no primeiro tri e 42 no segundo.
“Ainda vemos esse patamar como aquém do que a companhia deveria operar, mas temos começado a ver indícios de uma melhora,” disse o CFO.
Para ele, um patamar saudável para o prazo de recebíveis seria de 100 dias ou menos, em linha com a média histórica da empresa.
Apesar da melhora na geração de caixa, a Oncoclínicas viu sua despesa subir e seu EBITDA cair no trimestre, entregando um número ligeiramente abaixo das projeções do sellside.
As despesas operacionais ficaram em R$ 280 milhões, em comparação aos R$ 230 mi do segundo tri. A alta teve a ver com ‘one-offs’, incluindo custos com rescisões de funcionários e rescisões de contratos de aluguel de clínicas que foram fechadas.
“Este custo poluiu o resultado, mas teremos uma companhia mais leve e ágil no futuro,” disse Ferrari. “Nos próximos trimestres já devemos ver uma queda das despesas.”
Durante o trimestre, a Oncoclínicas reduziu seu quadro em cerca de 200 pessoas, entre diretores, gerentes, supervisores e outros cargos administrativos na holding.
No terceiro tri, o EBITDA foi de R$ 271 milhões, uma queda de quase 10% em relação ao segundo tri.
O EBITDA do trimestre também foi impactado pela decisão da empresa de limitar parcialmente a exposição a alguns planos de saúde que estavam com ciclos mais longos de pagamento. “Isso fez com que a gente tivesse um crescimento de receita menor do que poderíamos, mas reduziu a pressão no fluxo de caixa,” disse o CEO. “A tônica da companhia hoje é essa, de sempre privilegiar a geração de caixa.”
Nos próximos trimestres, a Oncoclínicas deve continuar nessa trajetória de gerar mais caixa, e no quarto tri terá uma ajuda importante.
A Oncoclínicas pagou no terceiro tri a última parcela antecipada de projetos de ‘build to suit’ que ela fechou, uma conta que gerou um dispêndio de R$ 29,7 milhões no período. (Para conseguir um preço melhor de aluguel e um investimento menor em equipamentos, a Oncoclínicas acordou com os proprietários de alguns desses projetos o pagamento de parcelas antecipadas do aluguel.)
No trimestre, a Oncoclínicas cresceu suas receitas em 12,9%, para R$ 1,7 bilhão, com expansão tanto do número de procedimentos (7,9%) quanto do tíquete médio (4,9%).
Já o lucro líquido ficou em R$ 9,3 milhões, em comparação a um prejuízo de R$ 3,5 mi no tri anterior.
A ação da Oncoclínicas negocia a R$ 4,45, no low histórico. O short interest no papel é 11% do free float.