A Oncoclínicas acaba de anunciar um aumento de capital de R$ 1,5 bilhão a um prêmio substancial sobre o preço de tela – uma transação que fortalece a estrutura de capital da rede de oncologia e lhe dá poder de fogo para M&As estratégicos.
As novas ações serão emitidas a R$ 13 – um prêmio de 74,5% sobre o fechamento de hoje – numa operação ancorada pelo Banco Master e pelo fundador e CEO da Oncoclínicas, Bruno Ferrari.
A Goldman Sachs, que investiu na Oncoclínicas em 2015 e tem 46% do capital, está cedendo seu direito de preferência ao Master, que passa a ser o segundo maior acionista da companhia.
Se nenhum acionista exercer seu direito de preferência – o que é provável dado o prêmio embutido na operação – o Master vai subscrever R$ 1 bilhão, comprando 12,3% da Oncoclínicas na subscrição. Mas como nas últimas semanas o banco já havia construído uma posição de 6% por meio da gestora WNT, a participação final do banco deve ficar em 18,3%.
A Goldman, que participa da Oncoclínicas por dois veículos – 26% são capital proprietário do banco, e outros 20% de um cliente – terá sua participação diluída para 36%.
Ferrari, que fundou a companhia em 2010 e hoje tem 5% do capital incluindo stock options ainda não exercidas, vai subscrever R$ 500 milhões, mais do que dobrando sua participação na companhia para 11%-12% do capital, numa transação também financiada pelo Master.
“Este aumento de capital vai melhorar nossa estrutura de capital e nos dá poder de fogo para novas aquisições estratégicas, que já estão sendo negociadas,” Ferrari disse ao Brazil Journal agora à noite.
De imediato, a alavancagem da Oncoclínicas cairá para 2,4x EBITDA. O endividamento da companhia havia subido de 3,1x para 3,9x entre o final do ano passado e o primeiro tri deste ano, depois que a empresa deixou de receber R$ 500 milhões da Unimed.
Segundo Ferrari, a redução da dívida líquida vai reduzir as despesas financeiras na ordem de R$ 15 milhões a R$ 20 milhões por mês.
A transação anunciada hoje começou a ser costurada seis meses atrás. O CEO do Master, Daniel Vorcaro — que tem construído um histórico de transações oportunísticas em empresas como Light, Flytour e Veste (a dona da Le Lis Blanc) — já conhecia Ferrari e abordou o fundador da Oncoclínicas para discutir o valuation descontado da empresa na Bolsa.
“Conversamos com a Goldman e com o Bruno, e estruturamos essa transação a seis mãos para apoiar a empresa em seus planos de crescimento,” disse Vorcaro, que vai assumir um assento no conselho da Oncoclínicas.
O poison pill da Oncoclínicas obriga acionistas que ultrapassarem 15% do capital a fazer uma oferta por toda a empresa – mas o estatuto da empresa também prevê que, quando a companhia chamar um aumento de capital que ela mesma precificar, os acionistas atuais (o caso do Master) ficam livres do poison pill ao participar da transação.
Esta é a segunda capitalização feita pela Oncoclínicas desde seu IPO no final de 2021. Em junho do ano passado, a companhia já havia levantado R$ 900 milhões com um follow-on a R$ 10,25 por ação. Naquela oferta, a Goldman já havia sido diluída de 60% do capital para os 46% atuais.
Vorcaro disse que o investimento do Master está sendo feito com um misto de capital de terceiros (num veículo estruturado pelo banco), capital proprietário e alavancagem.
O CEO do Master disse ainda que o empresário Nelson Tanure não está envolvido na transação – apesar do mercado associar a WNT a investimentos de Tanure.
Segundo Vorcaro, o Master decidiu fazer o investimento porque “mesmo a R$ 13/ação, a empresa está muito aquém de seu valor justo, principalmente olhando para as perspectivas futuras do negócio, como por exemplo a internacionalização.”
A ação da Oncoclínicas, que negociava a R$ 13 no final de dezembro, fechou hoje a R$ 7,45, com a empresa valendo R$ 3,9 bilhões.
O mercado penalizou o papel depois dos dois últimos resultados trimestrais, e mais recentemente começou a colocar no preço a probabilidade de um aumento de capital.
A XP assessorou a Oncoclínicas no aumento de capital.