A oferta de quase R$ 3 bilhões em ações da Light saiu a R$20/ação, um desconto de 7,3% em relação ao fechamento de hoje.
A transação só foi precificada por volta de 21:30 hs, com a Cemig insistindo num preço de R$ 21 numa oferta que marcou a saída da estatal mineira do quadro societário da Light.
O problema: como as duas ofertas eram casadas, se a oferta secundária da Cemig fosse cancelada, a Light também não captaria os R$ 1,37 bilhão que levantou — e a ação sofreria muito no pregão de amanhã.
Um cancelamento obrigaria tanto a Cemig quanto a Light a recomeçar a oferta do zero, um dispêndio de tempo e dinheiro para o management de ambas as companhias.
No final, o conselho da Cemig foi sensível às prováveis repercussões de um cancelamento da oferta sobre o valor de mercado da Light — e bateu o martelo em R$ 20. Pela primeira vez em seus 115 anos, a Light agora é uma corporation de capital pulverizado.
Há apenas 10 dias, a ação da Light negociava acima de R$ 24, o que permitiu à Cemig sonhar com uma saída ao redor de R$ 22-23, segundo uma fonte do governo mineiro.
Ontem, no entanto, faltando apenas um dia para o final da oferta, uma notícia pesou sobre as ações do setor elétrico: a Aneel resolveu colocar em audiência pública a forma como os créditos do PIS/Cofins que algumas distribuidoras ganharam no STF serão repartidos com o consumidor.
Resultado: a ação da Light terminou segunda-feira em queda de 6,5%, deixando a Cemig mais longe dos R$ 23/ação com que sonhava.
A transação — a primeira oferta de ações na B3 de 2021 e o maior follow-on do setor elétrico desde 2005 — foi a última grande oportunidade para investidores institucionais montarem posições relevantes na Light num momento em que a empresa começa sua história de turnaround sob o comando de um chairman e um CEO que vieram da Equatorial Energia.
A oferta precificada hoje equivale a cerca de metade do valor de mercado da Light, que fechou o dia valendo R$ 6,5 bilhões na B3.
Os dois acionistas de referência da empresa — Ronaldo Cezar Coelho, com 20% do capital, e Carlos Alberto Sicupira, com 10% — acompanharam a oferta prioritária e evitaram ser diluídos.
A CEMIG vendeu suas 68,6 milhões de ações, o equivalente a 22,5% do capital da Light, levantando R$ 1,37 bi. A Light vendeu 68,5 milhões de novas ações e colocou o mesmo valor em caixa.
Coordenadores da oferta: Itaú BBA (líder), BTG Pactual, Santander, XP e Citigroup.