O mercado de dívida internacional está apertando o cerco contra a Odebrecht, a única grande empreiteira que não teve um executivo preso na Lava Jato.
Os títulos de dívida da Odebrecht Oil & Gas — um negócio onde a Odebrecht tem como sócios minoritários a Gávea Investimentos e o fundo soberano Temasek, de Singapura — caíram hoje para o menor nível desde que foram emitidos.
O título, emitido em junho de 2014 e com vencimento perpétuo, negociou hoje a 45 centavos de dólar, oferecendo um retorno de 20,65% para os investidores dispostos a tomar o risco. A queda veio logo depois da Odebrecht Oil & Gas confirmar ao mercado ontem à noite que está proibida temporariamente de participar de novos negócios com a Petrobras. A proibição atinge um total de 23 fornecedores da Petrobras e foi anunciada pela estatal em 29 de dezembro.
Os títulos da Odebrecht Finance, que financia as atividades da Construtora Norberto Odebrecht (CNO), negociaram hoje a 85 centavos de dólar (9% de yield) e, mais cedo, bateram em 81, a mínima histórica.
Ninguém no mercado de dívida acha que a Odebrecht terá o mesmo destino que a OAS, que já deu “default” em suas obrigações.
Na sexta passada, a OAS deixou de pagar os juros de um título internacional, levando a agência Fitch a reclassificar o risco da empreiteira como ‘junk’. Isso, por sua vez, disparou o pagamento antecipado de 420 milhões de reais em debêntures da OAS no mercado brasileiro.
Além disso, na segunda-feira, a OAS não resgatou uma debênture de 100 milhoes de reais detida por um fundo de investimentos em direitos creditórios (FDIC) gerido pelo Credit Suisse. O “default” forçou administradores de outros fundos a marcar a mercado outras debêntures da OAS, levando mais de 40 fundos brasileiros a registrar perdas em suas cotas esta semana.
O mercado de dívida é um laboratório para se compreender como a incerteza trazida pelos desdobramentos da Lava Jato impacta o ambiente de negócios.
As cotações devem continuar em baixa enquanto perdurar a incerteza.
“Ninguém na base de investidores da Odebrecht ou de qualquer outra empreiteira entende as ramificações do que está acontecendo,” diz um veterano deste mercado. “É difícil justificar ter esses papéis na carteira apenas porque já caíram muito, sem saber de fato o que pode acontecer.”
Além disso, há a possibilidade de novas quedas se algum grande investidor tentar sair pela porta estreita de um mercado com baixa liquidez. “As quedas até agora têm acontecido com pouca liquidez, com pequenos negócios. Se alguém resolver zerar sua posição e tiver que vender US$5 milhões ou US$10 milhões de papel, provavelmente vai ter que sair a preços ainda mais baixos,” diz este especialista.
A iliquidez é agravada porque os compradores naturais destes papéis estão fora do mercado. Os bancos de investimento, que usam capital próprio para comprar esses títulos e depois revendê-los, não querem participar do mercado porque não querem correr o risco de ficarem ‘micados’ com algum crédito se um novo desdobramento da Lava Jato atingir o emissor. E os compradores internacionais, que conseguiriam absorver grandes posições, não participam do mercado porque não conseguem prever o que pode acontecer.
“Por mais que todo mundo perceba que Odebrecht é melhor que OAS, ninguém sabe qual o tamanho do problema, o que pode acontecer, quais contratos eles podem perder, o backlog futuro como pode ser afetado…. fica difícil de justificar ter esses papéis,” diz um trader. “Se nós que vivemos no Brasil não sabemos o que pode acontecer, imagine o investidor gringo.”