Do alto de seus 12 anos recém completados, Estevão se encontrava no ápice da realização de seus sonhos: fora aceito na academia, descobriu que as meninas o acham um gato, ganhou o prêmio de melhor aluno em matemática da sua série – enfim, a vida lhe parecia plena, não fosse por uma ambição velada e cultivada por algum tempo: entrar para o livro dos recordes…

A modalidade? O Silêncio. Ficar em silêncio pelo maior tempo possível.

O momento era propício. Seus 3 As estavam em alta: autoconfiança, autoestima e autocontrole. Para testar sua habilidade, já que o sacrifício seria imenso, ele decidiu que a escola seria seu laboratório.

Avisou a todos de seu objetivo. Recebeu o apoio inequívoco dos coleguinhas e embarcou em sua viagem silenciosa.

Primeiro dia – check! O céu era o limite.

Segundo dia – check! “Hehe, esse recorde está garantido.”

Terceiro dia – tudo sob controle, a não ser por uma sessão de desobediência coletiva dentro da sala de aula que desafiou e desestabilizou a professora, que deixou a sala chorando em direção à diretoria.

“Hummm…isso não vai acabar bem,” pensou o nosso pequeno monge. Mas tranquilo. Por mais tentador que fosse participar da bagunça, ficou ali só observando a confusão, focado em seu objetivo maior.

Mas qual não foi sua surpresa ao saber que, como castigo, a turma inteira levaria uma advertência, sem exceção, Estevão incluído.

Indignação geral. “Como assim?” Afinal, estavam todos ali, frente a um candidato decidido a quebrar o recorde mundial do silêncio!!!

Sob protesto de seus colegas, que tomaram suas dores já que ele não podia se pronunciar, Estevão percebeu que os louros de seu silêncio não seriam suficientes para enfrentar a vida como ela é.

A língua coçou, mas com a boca entreaberta – já pronto para se defender – refletiu por um momento e decidiu que para ter seu nome registrado no livro dos recordes valia engolir aquela punição – afinal, este seria apenas o primeiro de muitos pepinos que teria pela frente. “Ufa, passei no teste.”

Mas o que ele  ainda não sabia era que aquele era um pepino híbrido. Daqueles que, quando você acha que resolveu, você abre e logo descobre um abacaxi dentro. O dia lhe reservava outras surpresas.

Ao chegar em casa com a advertência na mão, levou aquela bronca de sua mãe – “está de castigo, uma semana sem Playstation!”. Era a pena cumulativa final. “Mas será possível?” pensou!

Diante de tanta injustiça, a alma se rebelou e a boca se abriu: “NÃO É JUSTOOOO!” 

Mais um recorde ficou pelo caminho.