DAVOS, Suíça — Participo do Fórum Econômico Mundial há mais de uma década, e a cada edição continuo em busca de entender como essa reunião de pessoas tão diferentes, vindas de vários lugares do planeta, consegue manter o frescor e o dinamismo de ideias e propósitos.

Certamente está na sintonia com os desafios contemporâneos a base da longevidade e relevância deste conclave, que acontece desde 1971.

Aqui se posicionam, trocam informações e debatem ideias chefes de governos, executivos de organismos multilaterais, líderes de companhias privadas, membros de ONGs e representantes da sociedade civil num espaço concentrado, que proporciona de encontros informais a conferências concorridas. É muito fácil ver e ser visto, ouvir e falar.

Um aspecto que chama a atenção é que o Fórum tem o espírito de agregar e compartilhar conhecimentos de forma objetiva. Mas, em vez de antecipar respostas, estabelece primeiro as perguntas e as dúvidas.

Dessa humildade, indica a todos nós, desde logo, que estamos em um mundo que é resultado de uma equação de incertezas.

A proposta inicial do Fórum era aproximar empresários europeus e americanos. Ao longo do tempo, ganhou amplitude geográfica e novas ambições temáticas. Tem o mérito de não suavizar a realidade.

Esta 54ª edição trouxe como pilar central a necessidade de recuperar os parâmetros da normalidade, mesmo num ambiente de riscos geopolíticos e ambientais crescentes, além das incertezas sobre a inteligência artificial.

Com o tema ‘Reconstruindo a confiança’, a proposta dos organizadores, liderados pelo professor Klaus Schwab, partiu do reconhecimento da fragilização das instituições e da troca, em muitas regiões do mundo, do diálogo civilizado pela polarização.

Nos painéis, os temas dominantes foram o rumo da taxa de juros, a inflação, a concentração da renda, as guerras na Europa e no Oriente Médio, as tensões geopolíticas na Ásia e América do Sul.

As preocupações incluem como estruturar métricas de risco para questões como as crises humanitárias geradas pela fome e pobreza extrema. A discussão sobre os países traçarem metas para a redução da desigualdade social foi travada aqui, e esperamos que seus reflexos concretos possam ser percebidos ao longo do ano.

A inteligência artificial assumiu grande relevância nos debates. O Fórum aplaudiu a integração da IA às atividades diárias das pessoas ao mesmo tempo em que reconheceu a importância de modelos de governança para o seu desenvolvimento.

O debate trouxe à luz, com muita ênfase, uma série de posições distintas, de governos e empresas, que mais tarde poderão se materializar em novos protocolos e entendimentos.

A necessidade de regulação foi defendida, inclusive pelo nosso ministro Luís Roberto Barroso, presidente do STF.

O Brasil mereceu a atenção dos investidores presentes em Davos. Somos vistos como um País que está fazendo a lição de casa com diligência e pragmatismo. Por isso, cresceu mais que o esperado em 2023 – e continua em busca de reformar sua economia.

O destaque foi o papel de protagonista na transição verde pelas condições naturais que possui. Num gesto emblemático, o empresário Bill Gates manifestou à ministra Marina Silva a sua intenção de visitar o País antes da COP-30, marcada para novembro de 2025 em Belém.

Minha expectativa é voltarmos a Davos no ano que vem com uma nova lista de desafios superados pelo Brasil — para buscar novas ideias e indicações dos rumos sobre a existência humana.

 

Luiz Carlos Trabuco Cappi é presidente do conselho de administração do Bradesco.