Quando o assunto é programação noturna para turistas, praticamente todos os grandes destinos mundiais estão bem servidos.

Nova York tem a Broadway.

Paris tem o Moulin Rouge e o Crazy Horse.

Buenos Aires, o Señor Tango e o Madero Tango. 

Já o Rio… “não tem nada!,” diz o empresário Alexandre Accioly enquanto caminha pela obra do Roxy, um cinema histórico que está sendo convertido em casa de espetáculos justamente para ocupar essa lacuna. 

boopo alexandre accioly

“Durante o dia, o Rio tem as belezas naturais: a praia de Copacabana, o Pão de Açúcar, o Cristo Redentor, a Lapa… Mas à noite, o turista está muito carente. Só tem os bares e botequins.”

Com o Roxy, Accioly quer colocar o Rio no circuito internacional dos grandes espetáculos, criando uma alternativa de entretenimento noturno para as 17 milhões de pessoas que visitam a Cidade Maravilhosa a cada ano. 

A nova casa de shows vai ocupar o espaço que antes abrigava um dos mais antigos e tradicionais cinemas do Rio de Janeiro, no coração de Copacabana. 

O Roxy abriu as portas em 1938 e faz parte da memória afetiva de boa parte dos cariocas, que assistiram a clássicos da sétima arte em seu gigantesco espaço de mais de 4 mil metros quadrados — que, em seu apogeu, chegou a ter cerca de mil assentos (numa única sala).

Outrora uma referência na cultura da cidade, o Roxy fechou as portas ano passado depois de ver seu fluxo minguar com a pandemia. O dono do imóvel — o grupo Severiano Ribeiro, que controla o Kinoplex — estava prestes a alugar o espaço para uma grande rede de varejo esportivo quando Accioly atropelou a negociação.

“Quando eu vi que o Roxy tinha fechado, liguei na hora para o Maurício Benchimol [o CEO do Grupo] para falar que eu queria alugar,” disse o empresário. “Ele disse que já tinham concordado em alugar para essa rede de varejo, mas eu os convenci de que não podiam fazer aquilo. Que seria um crime contra a cidade!”

Accioly — que fez fortuna com a venda de sua empresa de call centers para a Telefônica há vinte anos — tem apostado tudo no Rio. Além de controlar a rede de academias Bodytech, ele é dono de diversos empreendimentos da noite carioca, incluindo o espaço de shows Qualistage e o restaurante italiano Casa Tua, hoje o melhor da cidade.  

Mas como a cada 100 metros que anda Accioly tropeça numa nova ideia, as apostas não param: recentemente, um consórcio liderado por ele ganhou a concessão para revitalizar e explorar comercialmente o Jardim de Alah, um parque público abandonado na divisa de Ipanema com o Leblon.

Accioly e seu sócio Dody Sirena (empresário de Roberto Carlos por décadas e hoje dono de concessões como o Parque Villa Lobos em São Paulo) estão investindo mais de R$ 60 milhões no Roxy — R$ 45 milhões para a reforma e o restante para a criação do espetáculo e a contratação dos artistas. 

A reforma é complexa: Accioly teve que quebrar diversas paredes do edifício para transformar as três salas de cinema num amplo espaço aberto. Para evitar que a música invadisse os prédios vizinhos, teve que construir uma estrutura de ‘box in box’, uma espécie de segunda camada que evita que os ruídos saiam para a rua.

A meta do empresário é criar um equipamento cultural inédito no Brasil, que não deixe nada a desejar aos grandes benchmarks desse mercado. 

“Eu rodei tudo, vários Estados, e não achei nada nem perto do que estamos fazendo,” disse ele, esbanjando o entusiasmo típico de um empreendedor serial. 

O Roxy deve abrir as portas em março, depois de quase um ano de obras. O espetáculo inaugural, que vai se chamar “Aquele Abraço”, ficará em cartaz por três anos (o prazo pode se alongar ou encurtar dependendo da aceitação do público).

O show é uma criação de Abel Gomes, o mesmo coreógrafo e cenógrafo que deu ao mundo os espetáculos da abertura da Copa do Mundo de 2014. 

Com duração de quatro horas, o show será dividido em duas partes. As primeiras duas são para o jantar, que será acompanhado de um show de Bossa Nova. Na sequência, o espetáculo começa com a proposta de transportar o espectador para as cinco regiões do Brasil, mostrando nosso folclore, cultura e gastronomia. 

O fundo do palco será composto por um imenso painel de LED – 30 metros de altura por 7 de largura – onde serão exibidas filmagens dessas regiões. Simultaneamente, os dançarinos e músicos farão a apresentação.

Accioly disse que sua ideia é mirar principalmente no turista nacional, que representa boa parte (75%) de quem visita o Rio.

“É claro que vai ter também o turista internacional, mas eu quis criar uma casa que fosse focada no nacional, e mais democrática,” disse ele. “No show, só vai ter uma música que não cantamos em português, que é Garota de Ipanema. Já o turista internacional vai ter um grande espetáculo de dança, luz e música brasileira.”

Para atrair os brasileiros, o Roxy está apostando no preço. O show vai custar entre R$ 480 e R$ 540, com o jantar (com três pratos e bebidas) já incluso. 

“No exterior, qualquer espetáculo desses custa uns US$ 160, US$ 180,” disse Accioly. “Com esse preço vamos dar acessibilidade ao turista brasileiro e garantir uma boa ocupação o ano inteiro.”

A expectativa é que o payback do investimento aconteça em cinco anos. 

Um dos objetivos de Accioly com o Roxy é resgatar a imagem do Rio como a porta de entrada do turista internacional, perdida com o fechamento de muitas casas de shows nas últimas décadas e a migração de diversos voos internacionais do Galeão para Guarulhos (uma medida que está sendo revertida agora).

Em outros tempos, o Rio já teve grandes casas de espetáculos, como a Oba Oba Sargentelli, que ficava em Ipanema e era focada no samba; a Plataforma, que era frequentada por Tom Jobim; e o Scala, que ficava no Leblon.

Mas o mercado imobiliário acabou transformando todos esses pontos em prédios, e as crises sucessivas que acometeram o Rio nos últimos anos inibiram a abertura de novos espaços.

O Roxy é uma tentativa de mudar isso. 

Numa cidade acostumada a perder, perder, perder… empresários como Accioly insistem em virar o jogo.