Ziraldo vivia brincando com o tino comercial do amigo Maurício de Sousa.
“Maurício, quer fazer meu merchandising?,” dizia ele para o pai da Turma da Mônica.
Mas o criador do Menino Maluquinho, que morreu no ano passado aos 91 anos, nunca se dedicou muito ao lado comercial de suas obras. Preferia ser artista.

“Meu pai não tinha tino nenhum para o comercial. Nunca trabalhou para isso e nem tinha ideia do que significava a palavra negócio,” a cineasta Daniela Thomas, filha do cartunista e presidente do Instituto Ziraldo, disse ao Brazil Journal.
Mas os herdeiros querem mudar isso. Não só pela potencial lucrativo que os personagens podem trazer, mas como forma de eternizar o legado do artista e manter sua obra viva para as novas gerações.
A transformação começou em 2018, quando Ziraldo sofreu um AVC e nunca mais voltou a desenhar. Ali, a família percebeu que precisava assumir um desafio que ele sempre evitara.
Capitaneados por Daniela e Cláudio Miranda, enteado de Ziraldo, os herdeiros do artista criaram dois braços: o Instituto Ziraldo, responsável por guardar e restaurar as milhares de obras deixadas pelo autor em sua casa, na Baronesa de Poconé, no Rio; e a Ziraldo Arte e Produções (ZAP), o braço comercial que tenta agora levar o universo do artista para novos formatos.
Mas os negócios ainda avançam com cautela. A família não quer que a obra de Ziraldo e sua ligação com a educação se percam em meio aos licenciamentos.
É verdade que o licenciamento não é bem uma novidade para as criações de Ziraldo – mas é a primeira vez que ele é feito também visando o lucro.
Na década de 70, por exemplo, Ziraldo ilustrou diversas caixas de fósforo da Fiat Lux – que, agora, são objeto de colecionador – e diversas campanhas publicitárias. Mas o artista fazia esses trabalhos mais para ajudar os amigos; sequer pensava em contratos vultosos.

Para mudar esse cenário, a família foi atrás de Tati Oliva, a CEO da Cross Networking, uma agência especializada em parcerias. “A gente quer que o Ziraldo seja o Walt Disney e o Menino Maluquinho seja o Mickey, mas sem perder a essência deles,” disse a empresária.
Foram mapeados 30 universos de propriedade intelectual criados por Ziraldo, e 12 foram selecionados para uma primeira “vitrine” – entre eles O Menino Maluquinho, A Turma do Pererê, Flicts, O Bichinho da Maçã, Os Meninos Morenos e Os Meninos dos Planetas.
O primeiro teste foi com a marca de roupas Insider, que lançou uma coleção de camisetas com frases e ilustrações originais do artista sobre o universo do Menino Maluquinho, supervisionadas pelo ilustrador Mig, parceiro histórico de Ziraldo. Algumas peças esgotaram ainda na pré-venda.
“Não era sobre vender camiseta – era sobre mostrar que o Ziraldo continua aqui e que qualquer idade quer usar roupas com essas frases,” disse Tati Oliva.
Segundo ela, já há conversas com empresas como Tramontina e o Flamengo, o time de coração do artista.
A ideia dos herdeiros de Ziraldo é que a ZAP – especialmente com os licenciamentos – seja capaz de viabilizar e sustentar o Instituto Ziraldo. “O Instituto é o guardião das obras do Ziraldo,” disse Daniela.
A intenção da família é que a educação, a maior bandeira de Ziraldo, continue sendo a protagonista.
Nesse sentido, o Instituto já organizou a exposição Mundo Zira, que passou por Brasília, Rio de Janeiro, Belo Horizonte e São Paulo e foi eleita a mostra mais aprovada pelo público do CCBB em 2024. A próxima parada será Natal e, depois, Salvador, em parceria com o Museu de Arte Moderna da Bahia.
Além disso, a companhia de teatro Nau de Ícaros está encenando a peça O Menino Maluquinho, com plano de se apresentar em sete cidades, incluindo apresentações em escolas públicas e também no interior.
“Meu pai conversou com cinco gerações de brasileiros, e agora é nossa obrigação mantê-lo vivo,” disse Daniela. “O Ziraldo não pode ser esquecido – e nem precisa. Ele ainda tem muito a dizer.”











