The Not Company — uma foodtech chilena mais conhecida como NotCo — acaba de levantar US$ 85 milhões numa rodada que dará fôlego para a empresa acelerar sua expansão global e lançar novos produtos.
A Série C foi liderada pelos fundos Future Positive — do cofundador do Twitter, Biz Stone — e L-Catterton, um dos maiores investidores de marcas de consumo do mundo e que já investiu no St. Marché e na Petlove no Brasil.
A rodada avaliou a NotCo em cerca de US$ 250 milhões (post-money).
Os investidores atuais, que também acompanharam a rodada, incluem os fundos Bezos Expedition (do fundador da Amazon), Maya Capital (de Lara Lemann, filha de Jorge Paulo), Kaszek Ventures, e The Craftory.
Os cientistas da NotCo desenvolveram um algoritmo de ‘machine learning’ que analisa como combinar ingredientes para criar réplicas de alimentos de origem animal — como leite, maionese, sorvete, queijo e iogurte — mas usando apenas ingredientes vegetais.
Os produtos da NotCo têm o mesmo sabor, funcionalidade, textura, cor e cheiro do produto tradicional com base animal — mas são mais nutritivos que os originais, e, ao dispensar a criação de animais, reduzem a emissão de gases que contribuem para o efeito estufa. (De acordo com a FAO, vacas, porcos, ovelhas e galinhas respondem por 14,5% das emissões globais destes gases.)
Para simular um sabor, o algoritmo, chamado Giuseppe, busca as melhores combinações vegetais dentro de uma base de mais de 35 mil famílias de plantas comestíveis.
Foi assim que a NotCo descobriu que uma combinação de abacaxi, chicória e repolho, em determinadas condições e temperatura, é capaz de gerar a mesma sensação de tomar leite. Ou que, juntando acerola e grão de bico, você consegue simular o gosto e a textura da maionese.
Desde que foi fundada há cinco anos, a NotCo já levantou US$ 118 mi e lançou quatro produtos: o NotMilk (o carro-chefe da empresa), o NotMayo, o NotIcecream e o NotBurger, lançado há algumas semanas.
“Muitas pessoas entendem que o sistema alimentar está quebrado e os danos que ele causa ao meio ambiente, mas não mudam sua alimentação porque tem uma conexão afetiva com a comida, uma relação profundamente emocional,” Luiz Silva, o country manager da NotCo no Brasil, disse ao Brazil Journal. “Se quisermos mudar o sistema alimentar, precisamos manter exatamente a mesma experiência de consumo.”
O processo de P&D da NotCo começa com um grupo de cientistas e bioquímicos que fazem a quebra molecular das plantas e sobem os dados no sistema. Depois, o algoritmo sugere as melhores combinações vegetais, que são executadas pelos chefes de cozinha. Após diversos testes sensoriais e inclusão de feedbacks no sistema, o algoritmo vai afinando as fórmulas até chegar na combinação ideal.
Hoje, a NotCo opera no Chile, Brasil e Argentina, com a maior parte das vendas ainda concentrada no primeiro.
Com os recursos da rodada, a startup planeja entrar em todos os principais países da América Latina e nos Estados Unidos, onde já tem uma equipe de cientistas. No Brasil, os produtos da NotCo estão em mais de 700 pontos de venda de redes como Pão de Açúcar, Carrefour, Sam’s Club, Big e Zaffari.
A capitalização também vai financiar os esforços de P&D: a NotCo planeja lançar diversos outros produtos nos próximos anos dentro dos três segmentos em que atua (lácteos, ovos e carnes). Segundo Luiz, a foodtech já conseguiu desenvolver em laboratório uma fórmula que simula o sabor e textura do peixe. Outro projeto: lançar produtos como doce de leite e leite condensado.
A NotCo ainda não chegou no breakeven e a rodada também vai ajudar a sustentar a operação enquanto a empresa ainda não gera caixa.
O grande desafio da NotCo (e de todo o segmento) é conseguir ganhar escala — o que passa essencialmente pela redução de preços. Para se ter uma ideia, são produzidos mais de 7 bilhões de litros de leite longa vida por ano no Brasil, frente a menos de 7 milhões de litros dos substitutos vegetais.
Como ainda não tem escala, uma garrafa de 1 litro do NotMilk é vendida por cerca de R$ 14, contra R$ 4 do leite tradicional.
Além da falta de escala, a empresa sofre com uma tributação consideravelmente maior: como o NotMilk não é considerado “leite” pela regulação brasileira, ele paga 5x mais tributos que o leite normal.
“O primeiro passo para conseguirmos reduzir preços, e com isso gerar mais escala, é a equidade tributária,” diz Luiz.
A NotCo nasceu da cabeça de três chilenos que se conheceram nos EUA: Matias Muchnick, um economista e o cara à frente dos negócios, Pablo Zamora, que é PhD em inteligência artificial e ex-professor de Harvard, e Karim Pichara, um cientista da computação.
A ideia de criar a NotCo veio de Matias, que é vegetariano e já havia tentado (sem sucesso) criar um substituto vegetal para a maionese. Alguns anos antes, fundou a Eggless, que faliu pouco tempo depois.