Capital

Um fantasma ronda o capitalismo – o fantasma da concentração de renda.

Pelo jeito, a concentração chegou a um nível tão alarmante que aconteceu o inimaginável: um livro de 685 páginas, escrito por um francês, chegou ao topo da lista dos mais vendidos na Amazon.com

Capital in the Twenty-First Century (“O Capital no Século 21”), do economista Thomas Piketty, “deve roubar de Por que as nações fracassam e Dessa vez é diferente o título de obra de economia menos lida e mais comentada deste século”, escreveu Luciano Sobral, do blog de economia Drunkeynesian.

Sobral parece ter errado quanto à audiência, mas não errou sobre “a obra mais comentada”.

Em viagem aos EUA na semana passada, Piketty foi recebido pelo Secretário do Tesouro, falou aos membros do Conselho Econômico de Obama e deu palestra no FMI. Depois, foi a Nova Iorque falar na ONU e participou de um evento com Joseph Stiglitz e Paul Krugman, ambos ganhadores do Nobel de economia.

O livro fez explodir o debate sobre desigualdade de renda entre os economistas por dois motivos.

Primeiro, pelos dados que Piketty coletou e apresenta no livro: “Capital” nasceu de um projeto de 20 anos de pesquisa que reuniu séries estatísticas de declarações de renda de mais de 20 países; algumas séries começam no fim do século 18.

Segundo, pela proposta bombástica que Piketty faz na página 513: taxar com um alíquota de 80% quem ganha “acima de US$ 500 mil ou US$ 1 milhão” por ano.

No The Wall Street Journal, Daniel Shuchman, sócio de um hedge fund, escreveu que Piketty é mais um “visionário utópico”, e recomendou que ele lesse “A Revolução dos Bichos”, a lendária alegoria de George Orwell sobre o totalitarismo.

Sobral diz que é muito cedo para saber se o novo “Capital” terá sequer uma fração da influência longeva do anterior.

Diz ele: “Piketty … não é o novo Marx ou Keynes (ou nem mesmo o salvador da economia política no século XXI): é brilhante, estava no lugar certo na hora certa, mas sua obra e suas conclusões ainda vão ter que sobreviver a vários testes de realidade para que a aura de profeta se justifique”.