No filme Moneyball (em português: ‘O Homem que mudou o jogo’), Brad Pitt faz o papel de um técnico de baseball que lança mão da estatística para escolher os melhores jogadores para seu time.

No Leblon, James Gulbrandsen, da gestora NCH Capital, está fazendo a mesma coisa para escolher em que empresas investir.James Gulbrandsen

A NCH — uma gestora com sede em Nova York que administra US$ 3,2 bilhões em recursos em mercados emergentes — programou um software para ‘saber’ exatamente o tipo de companhia que agrada à gestora. São quatro quesitos principais: empresas com margem alta, com um retorno parrudo sobre o capital investido, uma alta taxa de reinvestimento do capital e — e isso é muito importante — com momento operacional excelente.

O software usa essas premissas, processa os dados quantitativos, e sugere a James — vamos chamá-lo assim porque ‘Gulbrandsen’ é meio complicado — as empresas que ele deve olhar de perto. O resto é com o ser humano. Para James, “o maior inimigo do gestor é o seu viés,” e o software ajuda a diminuir o papel do viés na tomada de decisão.

James não é apenas um ‘Big Data guy’, como sua fé no ‘moneyball’ da Bolsa sugere. Texano que não é nem republicano nem democrata, ele se autodenomina um libertário — o que não o impede de ser crítico em relação ao queijo suíço que é o sistema tributário americano, que permite aos bilionários do país pagar 12% de alíquota.

E, como bom americano, ele acredita que a Bolsa é (ou deveria ser) para todos. Por isso, em vez do investimento mínimo de R$100 mil ou R$ 50 mil exigido por muitas gestoras, seu fundo — o Maracanã FIA — aceita investidores com até R$ 5 mil. “Eu acredito que até minha empregada deveria ter ações na Bolsa,” diz. A crença tem raízes em uma experiência familiar. Os pais da mulher de James eram funcionários públicos, de classe média baixa. Bem cedo, começaram a investir 100 dólares todo mês em fundos de ações americanos e, ao longo de 50 anos, se tornaram “multi, multimilionários.” “Eles investiram um pouquinho ao longo de muito tempo,” diz James. “E isso pode ser feito no Brasil também.”

Há um ano e meio, James ganhou fama no mercado depois que escreveu uma carta sem meias palavras aos executivos da GP Investimentos, que estavam se pagando bônus gigantes apesar das ações terem caído 38% nos três anos anteriores. Os fundos da NCH Capital eram acionistas da GP. “Exigimos que modifiquem suas políticas de compensação, alinhando-as aos interesses dos seus acionistas. Suas atuais práticas não são apenas indefensáveis, mas também ofensivas”, fuzilou.

Mas a visão de James que mais interessa é seu otimismo (relativo a seus pares) sobre o Brasil.

“Sei que está ruim. Sei que vai piorar. Mas estou comprando porque o mercado sempre bate no fundo antes da economia melhorar,” diz ele, que administra investimentos no Brasil desde 1997 e mora há quatro anos no País, onde educa sua terceira filha, de cinco anos, que já fala melhor o ‘carioquês’ do que o inglês.

Entre outras coisas, ele acredita que a Petrobras vai começar a se recuperar este ano, que o desemprego não vai subir tanto quanto as pessoas esperam, e que o setor privado vai voltar a investir agora que o Estado está diminuindo seus gastos.

A visão de James ainda pode ser chamada de ‘contrária’ à narrativa predominante, mas o fluxo de investidores internacionais para a Bovespa nas últimas semanas mostra que ele não está sozinho. Com ou sem estatísticas.

Abaixo, a conversa de James com VEJA Mercados.

NCH