
O Credit Suisse declinou, e Freitas saiu de lá levando 10 pessoas para fundar a Hedge, que hoje tem R$ 3,4 bilhões de ativos sob gestão.
Fora do banco, Freitas se provou um concorrente incômodo.
Dono (na pessoa física) de uma fatia relevante dos FIIs de shoppings que o CS administrava, Freitas começou a pressionar por taxas de administração menores nos fundos. O movimento não lhe fez amigos na concorrência, que teve que baixar suas taxas também.
“Para performar — e ele performa — ele age com truculência, ele não é de passar a mão na cabeça de ninguém não,” diz um concorrente.
Mais tarde, pelo menos quatro FIIs que o CS administrava transferiram sua administração para a Hedge.
Hoje, a empresa gere e administra nove FIIs, incluindo o Hedge Brasil Shopping (HGBS11), o maior fundo do setor de shoppings.
Qual o diferencial da Hedge no mercado de FIIs?
São três. O primeiro — que é o nosso grande diferencial — é que nós também investimos no produto junto com o cliente. Se o fundo for mal, eu sou o cara que mais vou perder dinheiro. Não só eu, mas toda a minha equipe de gestão. O segundo ponto é que nós realmente fazemos gestão ativa: procuramos extrair o máximo de cada ativo que temos e buscar sair de posições se percebemos que aquilo pode ser um detrator de rentabilidade mais para a frente. Tem muito gestor que diz que faz gestão ativa, mas só faz emissão e compra… faz emissão e compra… e nunca vendeu nada! O terceiro é que a gente realmente está procurando a estratégia que melhor se adeque ao momento.
Essa é uma dúvida que vamos ter a vida inteira e o gancho do que está acontecendo hoje. Se você olhar uns oito meses para trás, a gente perguntava para o investidor: “você vai continuar com um fundo de renda fixa, dando 0,4% ao mês?” E ele achava que a taxa de juros a 6,5% era algo temporário, que ia voltar a subir rápido e que por isso não precisava mexer no portfólio. Hoje, caiu a ficha. O investidor percebeu que o 6,5% veio para ficar (se não for cair ainda mais) e que ele precisa fazer alguma coisa a respeito. Qual o resultado disso? Em 31 de dezembro do ano passado o mercado de fundos imobiliários chegou a 200 mil investidores. Em 31 de março deste ano subiu para 287 mil e eu acredito que em 30 de junho vai chegar a 350 mil investidores. Ou seja, você vai sair em seis meses de 200 mil para 350 mil investidores.
Enquanto não tiver um choque de juros vai continuar subindo?
Se é que vai ter um choque. E com a Bolsa é a mesma coisa. Pega o investidor estrangeiro: year to date eles tiraram líquido US$ 250 milhões da Bolsa. Os institucionais, se você pegar os multimercados, todos eles reduziram a exposição. Entraram em janeiro com uma exposição de Bolsa e tem uma bem menor hoje. Quem está comprando Bolsa então? O investidor pessoa física. O que está acontecendo é uma migração forte da renda fixa para a renda variável, porque o investidor percebeu que os juros podem ficar baixos por um bom tempo. Na minha opinião, até pode cair mais: se a reforma da Previdência for aprovada, eu acho que a Selic deve cair mais 0,5 ponto. O que efetivamente está acontecendo é que o Brasil, que era o país da renda fixa, percebeu que as coisas mudaram.
Nas últimas décadas, o Brasil talvez tenha feito a maior transferência de renda da história: do governo para o sistema financeiro. Ou melhor, do governo para qualquer pessoa que tinha renda. Não é à toa que você tem bancos hoje que valem US$ 60 bilhões no Brasil e que há 20 anos valiam US$ 1 bilhão. Como eles saíram de US$ 1 bilhão para US$ 60 bilhões? O País se ferrou inteiro. A culpa não é deles: lhes foram dadas condições para isso. Por isso que eu falo: será que os nossos juros hoje estão errados ou estavam errados antes? Será que precisávamos pagar esse prêmio todo que foi pago desde a redemocratização do País, desde os primeiros planos econômicos, quando tivemos juros reais às vezes de 15% ao ano? Nesse período, quem era rico ficou milionário e quem se endividou quebrou.
O que você diria a uma pessoa que ainda não investe, mas está interessada em colocar dinheiro em fundos imobiliários?
O principal ponto é entender que real estate é igual commodities, é oferta e demanda e ciclos econômicos. Eu trabalhei um tempo com café e sempre acontecia o seguinte: o preço começava a melhorar, o cafeicultor começava a ganhar dinheiro, comprava o vizinho, depois comprava o outro vizinho e começava a produzir mais. Quando o cara ia ver ele já tinha o triplo da posição dele. Até o momento em que o café despencava e ele não entendia o porquê. Despencava porque eles produziram mais do que o consumo. Aí o café, que era o melhor negócio do mundo, se transformava no pior negócio do mundo. Fundo imobiliário é isso: tem a ver com ciclo econômico e com o ciclo do produto e se você entrar no topo do ciclo sua chance de ganhar dinheiro é mínima.
Hoje, a tese para se comprar um fundo imobiliário ou uma BR Properties na Bolsa é exatamente essa: de que não vai ter supply novo chegando nos próximos três anos, a vacância vai reduzir e os aluguéis vão crescer. O ciclo do produto já está claro, mas e se não houver uma boa reforma da Previdência e a economia embicar para baixo? Nesse caso, mesmo não havendo entrada de oferta, o imóvel que está pronto não vai ser ocupado….
Isso vai determinar a inclinação da curva, mas não vai frear o ciclo imobiliário. Se não tiver uma reforma da Previdência ou se chegarmos numa situação em que o investidor não acredita que o governo terá solidez fiscal no médio prazo, a Bolsa também vai cair. E é aí que entra um ponto interessante: os fundos imobiliários têm muito menos volatilidade, porque menos de 2% dos investidores são estrangeiros. Então, você falar que não terá mais reforma da Previdência não afeta tanto as cotas dos FIIs. Tem vários dias que você olha o IFIX e ele está estável ou para cima, enquanto a Bolsa está caindo 3%.
Mas num cenário de crise é claro que tem um impacto grande: os juros vão subir e você vai ter uma acomodação de preços diferente por causa da taxa de juros. A cota dos FIIs tem uma correlação negativa de mais de 90% com a taxa de juros. Se a taxa de juros sobe, há um impacto negativo, mas menor que o impacto nas ações.
O ponto é esse. Se o País der certo, os FIIs vão subir parecido com as ações, mas se der errado, vão cair bem menos. E agora o investidor está pegando o ciclo imobiliário a seu favor, não vai entrar no topo do pico. A maioria dos preços hoje, em termos nominais, está abaixo dos preços de 2012. O aluguel do Infinity, onde fica o Credit Suisse, em 2012 era de R$ 180/m², hoje talvez tenha voltado para esse patamar, mas ficou muito tempo a R$ 140, R$ 130. O Pátio Malzoni chegou a negociar a R$ 220/m², hoje não tem locação nova nesse nível e deve estar perto de R$ 180. Passamos os últimos três anos conseguindo emitir apenas fundos de fundos (FOFs) ou de CRIs. Hoje, o mercado finalmente começa a conseguir fazer emissões primárias de fundos ‘de tijolo’.