Se a simplicidade é a derradeira força do gênio, como escreveu George Sand, existe algo definitivamente genial num bar escondido num pequeno cul-de-sac na refinada região de Saint James, em Londres.

E essa genialidade se expressa naquele que é considerado o melhor Dry Martini do mundo por uma característica especial e, ao mesmo tempo, muito simples: o drinque é servido na temperatura correta (gelada), sem nunca encostar numa pedra de gelo.

Obviamente estamos falando do Dukes Bar, situado no hotel homônimo, uma opção discreta e elegante de hospedagem na capital inglesa. Diz a lenda que foi no Dukes que um habitué – o escritor Ian Fleming, criador do 007 – inventou o Vesper Martini, o drinque imortalizado por James Bond na famosa cena de pôquer em “Casino Royale”.

A receita do Vesper é a seguinte: três medidas de gim, uma de Vodka e meia de Lillet (um aperitivo francês parecido com um vermute branco).

Mas o clássico da casa é o Dukes Martini, a versão criada pelo bartender Salvatore Calabrese nos anos 80.

Calabrese imaginou uma forma de evitar que o Martini da casa necessitasse de gelo na sua preparação, o que dilui a bebida. O Dukes Martini surpreende, portanto, por ser servido gelado, na temperatura perfeita, e por sua intensidade.

O segredo (hoje copiado em todo lugar) é guardar o gim e a taça no congelador. O atual bartender do Dukes, Alessandro Palazzi, pega a taça congelada, coloca algumas gotas de vermute branco para “cobrir” o interior do recipiente, descarta o vermute e então serve o gim diretamente do congelador. Para finalizar, ele aperta um twist de limão (orgânico e produzido em Amalfi, na Itália) para aspergir seus óleos e em seguida o joga dentro da taça.

Palazzi usa o No.3 London Dry Gin, produzido pela venerável Berry Bros. & Rudd, a mais tradicional casa negociadora de vinhos da Inglaterra. Um detalhe: a loja da Berry Bros. & Rudd fica a poucas quadras do Dukes e vale a pena ser visitada.

Há um ótimo vídeo no YouTube em que Palazzi apresenta sua receita.

Como o hotel, o ambiente do Dukes Bar é de uma elegância discreta, com o charme adicional de o seu drinque ser preparado num pequeno carrinho, ao lado da mesa. A carta da casa inclui diversas outras opções além das várias versões de Martini, incluindo um estupendo Manhattan, uma preferência pessoal.

Quando a pandemia passar, o Dukes Bar é uma excelente opção para um drinque antes do jantar numa próxima viagem a Londres. 

Ou você pode também seguir a dica do crítico de bares e coquetéis do New York Times, Robert Simonson: chegue no Dukes Bar por volta das 14h e cancele toda sua agenda para o resto da tarde.

 Flávio Ribeiro de Castro é jornalista e ama comida, vinhos e charutos.