Rishi Sunak disputou a liderança do Partido Conservador britânico com Liz Truss há pouco mais de um mês e saiu derrotado por uma margem pequena. Agora, após o breve e catastrófico governo Truss, que durou apenas 44 dias, Sunak ganha uma nova oportunidade de liderar o Reino Unido. 

A perspectiva de um governo Sunak trouxe alívio aos ativos britânicos antes mesmo de sua confirmação. A libra se valorizou e os juros dos Gilts, os títulos do Tesouro, recuaram. São sinais de que o mercado espera um governo sem estripulias fiscais propostas pelo governo Truss. 

F9F9A9C0 9225 461E 8772 C3F4C6D3B2AE“O Reino Unido é um grande País, mas enfrenta uma crise econômica profunda,” Sunak tuitou no domingo.

Sunak, de 42 anos, foi o Chancellor of the Exchequer, o equivalente a ministro da Economia, durante o governo Boris Johnson. Sua carreira antes da política foi forjada na City londrina, incluindo a experiência de analista na Goldman Sachs e gestor de hedge fund.  Sunak fala a linguagem que o mercado quer ouvir: promete cortar gastos e reequilibrar as contas. 

O mercado receava a volta de Boris Johnson e suspirou aliviado com a sua desistência. A libra chegou a ganhar quase 1% contra o dólar, cotada a US$ 1,14. 

Os juros dos títulos de 10 anos recuaram, embora permaneçam acima de 3,5%. Abaixo, porém, do pico recente de 4,6%, o maior patamar desde 2008, depois da péssima recepção à proposta apresentada por Truss de ampliar subsídios e reduzir impostos para os mais ricos. 

Filho de pais de origem indiana, Sunak será a primeira pessoa não branca a liderar o Reino Unido. Não se sabe se ao tomar posse repetirá o gesto feito ao assumir a sua cadeira no Parlamento, quando fez o seu juramento com a mão direita sobre o Bhagavad Gita, o livro reverenciado pelos hindus. 

O pai e a mãe de Sunak nasceram em colônias britânicas na África Oriental. Nos anos 60, migraram para a Inglaterra.

O mais velho de três irmãos, Sunak nasceu em Southampton e estudou filosofia, política e economia em Oxford. 

Formado, fez MBA em Stanford. Foi por três anos analista da Goldman, e, na sequência, trabalhou em hedge funds. 

Depois de fazer patrimônio entrou para a política e, em 2014, elegeu-se membro do Parlamento pelo Partido Conservador. É, aliás, o mais rico entre os membros da House of Commons. 

No governo Johnson, comandou a economia entre fevereiro de 2020 e julho de 2022. Saiu do governo em oposição às tormentas políticas e escândalos do primeiro-ministro.

Para muitos conservadores, sua renúncia foi uma traição. Isso acabou lhe custando a falta de apoio para derrotar Truss em setembro, apesar de, anteriormente, ter sido considerado o sucessor natural de Johnson. Chegou a vez de Sunak comandar o País e resgatá-lo do caos político e econômico.

É uma reviravolta e tanto em sua carreira política, que por pouco não chegou ao fim no início do ano, na sequência de revelações de sonegação fiscal envolvendo sua mulher.

Sunak é casado com Akshata Murty, filha e herdeira de um bilionário indiano do setor de tecnologia. Ela havia se declarado como não-residente do UK para fins tributários, o que a livrava de pagar imposto de renda sobre as mais de 11 milhões de libras em dividendos que recebia anualmente.

De acordo com os relatos da imprensa britânica, dessa maneira ela deixou de recolher 20 milhões de libras aos cofres do Tesouro, que era comandado pelo seu marido. Sob críticas, acabou pagando os impostos. 

O pai de Akshata, Narayana Murty, fundou a Infosys, a multinacional indiana de tecnologia da informação. Ela tem 0,93% do capital da Infosys, o que lhe assegura uma fortuna de mais de US$ 700 milhões.

Polêmicas e fogo amigo à parte, Sunak mantém-se como um dos políticos mais populares do Reino Unido. Assume um País atolado em dificuldades para manter sua relevância global, sobretudo depois do plebiscito do Brexit, em 2016. 

Crítico das propostas de Truss, Sunak defendeu que eventuais reduções de impostos só devem ser discutidas depois que a inflação estiver sob controle. Alinhado com o bloco mais à direita dos Conservadores e defensor do Brexit, Sunak, nas palavras no Financial Times, é um “ambicioso pragmático” que soube se aproximar das outras correntes dentro de seu partido. 

Durante o seu período no comando da economia, foi reconhecido pela competência em lidar com os desafios trazidos pela pandemia e conquistou a confiança da burocracia do Tesouro.

Durante um debate com Truss, quando ambos disputavam a liderança do partido, Sunak previu que o plano econômico da concorrente agravaria a inflação e jogaria os juros dos títulos públicos nas alturas. Dito e feito. 

O novo primeiro-ministro indicou que vai apresentar um plano e corte de gastos. Poderá, inclusive, elevar alguns impostos, para tapar o rombo fiscal de 40 bilhões de libras. As suas propostas para consertar as finanças serão conhecidas em mais detalhes no dia 31. 

As turbulências políticas e indefinições têm minado a economia britânica, cujo desempenho recente fica atrás das não muito brilhantes economias da zona do euro. Os eleitores estão insatisfeitos, e uma de suas missões será reverter a queda de aprovação dos Conservadores. Se as eleições gerais previstas para 2024 ocorressem hoje, muito provavelmente o Partido Trabalhista sairia vitorioso. 

Sua prova de fogo será demonstrar na prática como um ajuste fiscal que poderá afetar os serviços públicos não derreta ainda mais o apoio aos Conservadores – especialmente entre os eleitores mais pobres.