A Grendene – a fabricante dos chinelos Rider e das sandálias Melissa e Ipanema – decidiu pagar US$ 10,5 milhões à gestora Radar por 50,1% da subsidiária Grendene Global Brands (GGB) e acabar com a joint-venture criada em 2021.
Alceu de Albuquerque, o diretor de relações com investidores da Grendene, disse ao Brazil Journal que o negócio foi feito porque a Radar (a antiga 3G Radar) viu que o retorno demoraria e, mesmo assim, preferiu sair do negócio com prejuízo.
“Nós estávamos felizes com a parceria, mas temos a consciência de que não se constrói uma marca global de um ano para o outro, e a Radar tem um perfil diferente e que exige um retorno mais rápido,” disse Alceu.
A GGB foi criada há três anos para turbinar as vendas da Grendene nos Estados Unidos e na China por meio de uma operação própria. A América do Sul, o principal mercado da Grendene fora do País, continuaria sendo atendida por distribuidores locais.
Na época da JV, 26% da receita da Grendene já vinha de exportações, mas basicamente das vendas para distribuidores locais.
Enxergando valor na tese, a Grendene e a 3G Radar se comprometeram a investir US$ 100 milhões nos dois primeiros anos da parceria. Três anos depois, foram investidos US$ 75 milhões – metade para cada um dos parceiros.
Porém, o mercado externo se tornou uma pedra na sandália da Grendene.
O aumento dos juros em diversos países, assim como a alta da volatilidade econômica causada por problemas logísticos e conflitos regionais, fizeram as vendas externas da companhia caírem.
Nos nove primeiros meses do ano, as exportações da Grendene caíram 6% na comparação com o mesmo período de 2023 – e a participação nas vendas agora é de 16,7% do total.
As operações nos EUA e China também não ganharam tração como previsto. Resultado: a GGB continua no vermelho desde o início. Nos nove primeiros meses deste ano, a GGB ficou R$ 100 milhões no vermelho.
Diante de um investimento de prazo mais longo, a Radar preferiu sair do negócio.
Alceu não projeta a data quando a operação chegará ao breakeven, mas admite que não será em 2025 e que a Grendene precisará fazer novos aportes.
Ainda assim, ele diz que a empresa continua enxergando um potencial gigantesco.
“EUA e China, juntos, representam 50% do consumo e não chegam a 10% das nossas exportações. Há muito espaço para crescer, e a construção de nossas marcas nesses países será tijolo a tijolo,” disse.
A Grendene também vem enfrentando um cenário desafiador no Brasil, o que deve piorar com a nova alta dos juros encomendada pelo Governo Lula ao não levar a sério o rombo fiscal.
Apesar da receita líquida ter subido 9% no terceiro tri para R$ 750 milhões, o volume de pares vendidos pela Grendene caiu 1,5%.
Ao mesmo tempo, a empresa vem conseguindo repassar o aumento de preços ao consumidor, o que se refletiu na alta de todas as margens. O lucro da empresa subiu 45,9% no último tri para R$ 240 milhões.
A ação da Grendene negocia no nível mais baixo desde 2016. O papel cai 21% nos últimos 12 meses, e a empresa vale R$ 5 bilhões na Bolsa.