Um vilão adormecido pode estar prestes a assombrar o setor de construção de baixa renda. Segundo o Itaú BBA, a inflação na construção já começa a dar sinais de que voltará a ser uma realidade.
O banco aponta que o setor, como um todo, se acostumou com a inflação baixa dos últimos dois anos – mas será que deveria?
“Tememos que isso possa ser a calmaria antes da tempestade, já que o Brasil raramente viu o INCC permanecer no nível atual de 4-5% por muito tempo”, dizem os analistas Daniel Gasparete, Luiz Capistrano, Mariangela Castro e Alejandro Fuchs num relatório publicado hoje.
O que chamou a atenção do banco foi a rápida aceleração do índice. Enquanto o INCC de 2023 ficou em 3,34%, em setembro o índice já havia atingido 5,22% no acumulado de 12 meses.
Com a alta demanda no setor, os salários devem continuar pressionados (cerca de 7%, segundo o banco) e, para agravar a situação, o aumento da atividade pode pressionar a inflação dos materiais – que até então estava ajudando a segurar o INCC.
Entre as maiores altas do INCC no último mês destacam-se os vergalhões (+1,6%), salários (+0,76%), blocos de concreto (+0,7%) e concreto usinado (+0,67%).
Na visão dos analistas, o INCC de setembro mostrou que “os principais impulsionadores da inflação do lado dos materiais foram justamente os itens estruturais,” algo que não estava ocorrendo anteriormente.
Diante desse cenário, as empresas mais impactadas serão aquelas com maior exposição às faixas de renda mais baixa do programa Minha Casa Minha Vida, as que estão em uma fase acelerada de obras e as que operam com maior velocidade de vendas (o que implica uma janela menor para ajustar preços).
Segundo os analistas, Tenda e Cury são as que mais se enquadram nesses critérios; o Itaú BBA está restrito na cobertura de MRV Engenharia.
“Acreditamos que as empresas que dependem de margens maiores para melhorar o fluxo de caixa sofrerão mais nesse cenário,” escreveu o time.
Ainda assim, o cenário está longe de ser catastrófico: o Itaú continua otimista com as ações das construtoras de baixa renda, vendo níveis atrativos de TIR (taxa interna de retorno) e potenciais “robustos pagamentos de dividendos e crescimento de lucros.”
A principal recomendação do banco no setor continua sendo a Direcional. O Itaú BBA estima uma TIR de 25%, com a empresa negociando a 6,5x o lucro estimado para 2025.
Mas se o cenário pessimista se concretizar, os analistas consideram a possibilidade de trocar a preferência para a Cyrela, devido ao desconto nas ações: a Cyrela negocia a um múltiplo P/B de 0,9x.