Depois de se desenrolar espetacularmente no mundo financeiro, a tragédia da ascensão e queda de Eike Batista entrou ontem em sua fase criminal, com o acusado chegando em avião de carreira e sendo levado ao presídio para a tosa que lhe marca como réu.
A prisão do ex-bilionário fez muita gente comemorar, e continuou a longa catarse nacional possibilitada pela Lava Jato.
Mas o que restará quando a adrenalina baixar e a sede de justiça estiver saciada? O que teremos aprendido com tudo isso, nós que não estamos presos e temos que retomar esta luta diária e construção coletiva chamada Brasil? Que ensinamento tiramos da queda dos poderosos?
A prisão de Eike Batista renova a oportunidade para discutirmos onde terminam os empresários-vilões e começa o Estado bandido. Um não existe sem o outro.
Primeiro, as ressalvas — que, por óbvias, seriam desnecessárias, mas insisto: Todos somos responsáveis por nossos próprios atos, e o braço da Justiça tem que alcançar a todos que delinquiram. Mais: todo adulto deveria ter a capacidade de dizer ‘não’ quando o papo não é reto.
Isto posto, ninguém vive no mundo da teoria; ou, como ensinou o filósofo Ortega y Gasset, “Eu sou eu e a minha circunstância.”
“É humanamente impossível cumprir todas as regulações que temos,” diz um empresário à coluna. “Imagine um arame farpado. Agora, imagine 100 arames farpados. Imagine que eles estão bem perto um do outro, e que você tem que atravessar um campo de 100 metros cheio deles.”
Ninguém sai sem um arranhão.
Como o agente público tem o poder discricionário de multar (ou não) e de aprovar (ou rejeitar), quanto mais numerosas e confusas as regras, maior o espaço para aquela subjetividade que vem com uma piscada de olho. Neste capítulo, o que os empresários mais temem é o famoso instituto do ‘meu entendimento.’ Quando um fiscal diz, “No meu entendimento…”, o empresário sabe que o monstro cinzento da burocracia está prestes a engoli-lo.
A geometria ensina que a menor distância entre dois pontos é uma reta, o empresário brasileiro é forçado a percorrer este trajeto em curvas: um caminho que dissipa a energia criativa e consome recursos em áreas-meio (contadores, advogados…). É um Sistema que cria inconveniências para vender ‘soluções’, empurrando gente honesta para a ilegalidade.
Muitos empresários (pequenos, médios e grandes) se reconhecerão nestes dilemas. O empresário toma risco e trabalha com prazos e retornos. Já o Estado tem seu próprio timing, e seu ‘dono’ são 200 milhões de brasileiros que não estão ali na hora, aptos a julgar sua performance. Um fiscal que ‘senta’ numa autorização pode inviabilizar um projeto.