Murilo Ferreira, que se licenciou esta semana da presidência do conselho de administração da Petrobras , fez ontem um desabafo a um interlocutor. Murilo Ferreira 

“A Petrobrás não é do acionista majoritário, nem do acionista minoritário — ela é da corporação,” disse Ferreira, que também é o presidente da Vale.

“Seu eu fosse morador de Nilópolis, São Gonçalo ou da Baixada [regiões pobres do Rio de Janeiro], eu ficaria revoltado com os tipos de privilégios que os funcionários conseguiram garantir para si mesmos.”

Em seguida, meio constrangido, tirou da carteira um cartãozinho verde. “Sabe o que é isto? É um cartão com o qual eu vou a qualquer farmácia, pago apenas 15 reais e compro o medicamento que quiser. Nenhuma empresa particular no Brasil tem um cartão de convênio médico como esse. Eu nunca usei, senti vergonha.”

E prosseguiu: “Na Vale, consegui tirar os carros dos diretores. Na Petrobrás não é possível diminuir qualquer coisa que a corporação não queira.”

Esse espírito de corpo, segundo Murilo, “não permite imaginar que qualquer coisa vá mudar lá.”

E, fazendo referência a um prêmio internacional que ganhou como CEO da Vale, disse, “Eu não poderia arriscar minha reputação continuando ali.”