Quando a “entrega rápida” vira commodity, como é possível inovar?
Simples: crie a entrega ultra-rápida.
Essa é a ideia por trás da Daki, uma startup fundada em janeiro que se compromete a entregar produtos de supermercados em no máximo 15 minutos.
Não vai ser um passeio no parque: a Daki vai disputar um nicho que já começou a atrair a atenção de grandes players como o Rappi e o iFood.
Por enquanto, a startup tem cinco darkstores que atendem dez bairros de São Paulo — mas o plano é abrir mais 100 lojas até o fim do ano, o que lhe permitiria cobrir toda a cidade e entrar nas principais capitais.
Cada darkstore custa em torno de R$ 100 mil e viabiliza entregas num raio de curta distância.
A Daki foi fundada por três amigos que se conheceram enquanto trabalhavam na Oyo — a rede de hospedagem indiana investida do Softbank que entrou no Brasil em 2019 mas acabou fazendo check-out durante a pandemia.
Para competir num mercado intensivo em capital, a Daki acaba de se fundir com a JOKR (pronúncia: djôker), uma startup americana que tem o mesmo modelo de negócios em países como Estados Unidos, México e Peru.
A JOKR — que também nasceu no início do ano — foi iniciada por Ralf Wenzel, que fundou e depois vendeu a Foodpanda para o DeliveryHero e que, até abril, era um dos managing partners do Softbank Latin America Fund.
Antes da fusão, a JOKR já havia feito uma rodada seed com o Softbank, HV Capital e Tiger Global; enquanto a Daki havia levantado R$ 2 milhões com um grupo de investidores-anjo.
Diferente dos principais players de delivery de supermercados, a Daki não opera como marketplace: ela vende apenas produtos 1P com um sortimento consideravelmente menor. (São cerca de mil SKUs, frente aos 10 mil de um supermercado tradicional.)
“Se você quer controlar a qualidade e ter excelência, você tem que colocar tudo dentro de casa,” Rafael Vasto, o CEO e cofundador, disse ao Brazil Journal. “Por isso, somos 100% verticalizados: além de controlar o estoque e as lojas, nossos ‘shoppers’ são contratados e os entregadores também trabalham só para a gente.”
Alex Bretzner, o outro fundador, reconhece que o negócio demanda mais capital do que os marketplaces, mas tem um ‘unit economics’ muito melhor.
Outra vantagem da Daki é a eficiência operacional que o modelo gera: a startup consegue fazer muito mais entregas por hora — faturando mais e aproveitando melhor a mão de obra (e o tempo) de seus entregadores.
A grande questão é quanto tempo vai demorar até os grandes apps do setor começarem a se movimentar com força na mesma direção. Desde fevereiro, a Rappi tem testado entregas ultra-rápidas — basicamente a mesma coisa que a Daki está fazendo.
No modelo, a Rappi entrega alguns poucos itens de supermercados (1,4 mil SKUs) em 10 minutos para bairros de São Paulo e do Rio com 32 darkstores. Seu plano é chegar a mais de 150 lojas até o fim do ano.
Os próprios fundadores reconhecem que no futuro a entrega ‘ultra-fast’ vai se tornar uma commodity, e que a concorrência vem aí.
“Onde vamos nos diferenciar é na consistência e experiência que estamos oferecendo pro usuário. O modelo de marketplace não permite essa experiência tão boa, porque eles não têm todo o controle da jornada,” diz Alex. “Nossa taxa de acerto — que mede quanto das nossas entregas foram em no máximo 15 minutos e sem nenhum erro (exatamente os produtos que o cliente pediu) — é superior a 95%. Nos concorrentes de marketplace, esse número é significativamente menor.”