A Alicerce acaba de levantar R$ 40 milhões numa rodada que vai financiar sua entrada em Curitiba com a abertura de 44 unidades de ensino — um movimento que marca o retorno da startup de aulas de reforço para seu modelo B2C. 

A captação foi liderada pela Rise Ventures, uma gestora brasileira de impacto que levantou seu primeiro fundo de R$ 150 milhões há dois anos.

IMG 1634A Rise fez um cheque de R$ 15 milhões, e o fundador e CEO da Alicerce, Paulo Batista – um ex-CEO da Dental Cremer – acompanhou a captação, colocando outros R$ 15 milhões para não ser diluído. Com isso, ele manteve sua participação de 38% no capital da empresa. 

Os R$ 10 milhões restantes serão levantados com os LPs da Rise e outros investidores-anjo. 

A captação de hoje – que está sendo chamada de uma “pré-Série B” – foi estruturada como um SAFE, em que o valuation será um desconto sobre o valuation da próxima rodada (a Série B). Na Série A, que foi liderada pela Valor Capital há dois anos, o valuation havia sido de US$ 46,5 milhões. 

Batista disse que é difícil prever o valuation da Série B, mas que a ideia da companhia é buscar algo entre US$ 80 milhões e US$ 100 milhões. 

Os recursos da rodada serão usados basicamente para a abertura de escolas de reforço em comunidades de Curitiba – um movimento que marca a retomada do modelo de negócios original da startup. 

A Alicerce nasceu em 2019 para tentar resolver o problema crônico de déficit de aprendizagem no Brasil, e hoje tem 30 mil alunos em 330 unidades em 24 Estados. 

Segundo dados da PISA e do Saeb (Sistema de Avaliação da Educação Básica), 70% dos brasileiros não têm o aprendizado necessário para ser considerados cidadãos, e só 9% são capazes de ler um livro. 

A Alicerce começou a atacar o problema abrindo unidades em comunidades carentes e cobrando uma mensalidade acessível – em torno de R$ 150 – pelas aulas diárias. 

Com a pandemia, no entanto, ela foi obrigada a reinventar seu negócio, passando a operar basicamente no B2B. 

Hoje, 50% do faturamento de R$ 50 milhões vem de contratos com governos, pelos quais a Alicerce fica responsável por criar os programas e dar as aulas de reforço em escolas públicas; 40% vem de contratos com empresas, que pagam as aulas de reforço para os filhos dos funcionários em unidades dedicadas e financiadas por elas; e 10% vem de esforços filantrópicos, em que famílias ricas financiam unidades dedicadas para atender alguma comunidade.

A Alicerce também oferece aulas de qualificação profissional para jovens de 15 anos e adultos até 70 – um produto vendido para empresas. 

Com a rodada de hoje, o plano é retomar os esforços B2C. Em setembro do ano passado, a Alicerce já havia aberto quatro unidades em Curitiba num modelo de testes. Agora, acaba de abrir outras 31 unidades na cidade, e abrirá outras 13 em janeiro. A startup também está investindo em campanhas de TV e nos meios digitais para turbinar o B2C na cidade. 

Segundo Paulo, com o investimento em Curitiba, o B2C deve passar a representar cerca de 16% do faturamento da companhia no primeiro tri de 2024. 

Batista chamou a estratégia de expansão da startup de ‘omnichannel territorial’. 

“Definimos um território, abrimos muitas unidades lá para cobrir toda a periferia, e depois trabalhamos todas as frentes de expansão: B2C e B2B,” disse ele. “Isso cria um efeito de rede e um marketing boca a boca.”

O CEO disse que a Alicerce já mapeou 400 territórios onde essa estratégia pode ser executada. “Nossa ideia é terminar de validar esse conceito em Curitiba e aí fazer a Série B para abrir mais 40 territórios. Depois, queremos fazer um IPO em 2027 para entrar nos outros 360 territórios e começarmos a exportar o modelo para fora do Brasil.”

A meta da startup é dobrar o faturamento para R$ 100 milhões no ano que vem, e chegar a um faturamento de R$ 1 bi em 2027. 

Pedro Vilela, o gestor da Rise, disse que investiu na Alicerce por ela ser uma das poucas startups de educação que preencheu as duas caixinhas que a gestora busca: um impacto positivo, concreto e mensurável e um retorno financeiro atrativo. 

“Visitamos vários centros, conversamos com alunos, pais, governo, empresas e vimos que o negócio realmente mexe o ponteiro no analfabetismo,” disse ele. “Também gostamos muito do time e do fato do Paulo ter colocado dinheiro próprio na rodada.”

O gestor disse ainda que acha que o negócio tem uma barreira de entrada alta “pela metodologia que eles criaram. Não é algo tão simples de replicar.”

Segundo Batista, o segredo da metodologia da Alicerce é criar trilhas personalizáveis para cada aluno e sempre trabalhar na ‘zona de desenvolvimento proximal’ de cada um. Ou seja, ensinar a pessoa na fronteira exata do que ela sabe e não sabe. 

“Parece óbvio, mas é o contrário do que as escolas fazem: elas ensinam por idade, e o mesmo conteúdo para todo mundo.”