A greentech NetZero e a tradicional trading de café e algodão EISA estão criando uma joint venture para construir uma fábrica de biochar na cidade de Machado, no sul de Minas, a maior região cafeeira do Brasil.
Pra quem não sabe, o biochar é um carvão vegetal feito a partir de resíduos agrícolas e considerado uma das tecnologias mais eficazes no sequestro de carbono em larga escala – logo, uma ferramenta importante no combate ao aquecimento global.
A NetZero, uma startup francesa investida da Stellantis e da L’Oreal, vai desembolsar R$ 20 milhões junto com a EISA, subsidiária do grupo suíço ECOM, na terceira unidade que a NetZero anuncia em menos de dois anos no País – a empresa também tem uma fábrica em Camarões.
Assim como nos outros empreendimentos no Brasil, a NetZero utiliza resíduos do cultivo de café, como cascas, palha e caroços, para a produção de um carvão vegetal em um processo que, sob altas temperaturas, solidifica o carbono da biomassa e é aplicado como fertilizante no campo.
Fundada em 2021 pelo francês Olivier Reinaud, neto de um dos cientistas pioneiros no estudo do biochar no Brasil, a NetZero propõe um modelo de negócio circular: além do investimento da fábrica, é ela quem recolhe a matéria prima das fazendas dos cafeicultores associados. Em troca, o produtor recebe gratuitamente parte do biochar que é feito e compra o restante próximo ao preço de custo.
“Para o produtor rural, resolvemos um problema, que é coletar todo o resíduo que a cafeicultura gera, e entregamos um fertilizante que gera um aumento de produtividade de, em média, 25%”, o cofundador da NetZero, Olivier Reinaud, disse ao Brazil Journal.
Como o uso do biochar não envolve emissões e sim a captura de carbono, a startup pode negociar créditos no mercado de carbono – algo que se tornou viável após o Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas da ONU (IPCC) reconhecer cientificamente o biochar como uma tecnologia segura e eficiente na remoção e fixação de carbono atmosférico.
Segundo um relatório do IPCC de 2022, o biochar tem o potencial de remover globalmente 2,6 bilhões de toneladas de CO2 equivalente da atmosfera por ano. “O Brasil pode se tornar o grande case de biochar no mundo,” diz Reinaud.
Com capacidade para produzir 4 mil toneladas de biochar por ano, a nova fábrica da NetZero permitirá capturar anualmente mais de 6 mil toneladas de CO2 – sem contar as emissões evitadas com o menor uso dos fertilizantes tradicionais nos cafezais.
Cerca de 400 produtores de café da região de Machado serão beneficiados com a produção, o que permitirá cobrir com o produto 1,2 mil hectares. O início das obras está previsto para abril.