O Nubank teve um lucro líquido de US$ 303 milhões no terceiro tri com um ROE de 21%, entregando o maior resultado trimestral de sua história e atravessando incólume um ciclo de crédito que machucou os grandes bancos.
O bottom line ficou 20% acima da projeção do sellside, que esperava um lucro na casa dos US$ 250 milhões, segundo o consenso Bloomberg. O BTG projetava US$ 311 milhões; o Itaú BBA, cerca de US$ 290 milhões.
É o oitavo trimestre consecutivo que o Nubank bate o mercado.
O CFO Guilherme Lago disse ao Brazil Journal que o lucro líquido foi impulsionado por três alavancas: o crescimento do número de clientes; a expansão da receita média mensal por cliente, o chamado ARPAC; e a manutenção do custo de servir, que se manteve estável abaixo de US$ 1 mesmo com o crescimento da base e da receita.
No trimestre, o ARPAC do Nubank foi de US$ 10, a primeira vez na história do banco que o número fica acima de dois dígitos e uma expansão de quase 20% na comparação anual. O Nubank disse que entre os clientes mais maduros esse indicador já está em US$ 26.
O índice de eficiência — que mostra o quanto o banco precisa gastar para fazer determinada receita — também teve uma melhora relevante, saindo de 55% há um ano para 35% agora. No segundo tri, esse indicador já havia sido de 35,4%.
A carteira de crédito, no entanto, cresceu abaixo do esperado pelo mercado. A carteira — composta 80% por cartão de crédito e 20% por crédito pessoal — foi de US$ 14,8 bilhões no segundo tri para US$ 15,5 bi neste tri, um crescimento de apenas 4%.
O BTG, por exemplo, esperava um crescimento de 15%, com a carteira chegando a US$ 17 bilhões.
Apesar disso, o CFO disse que o crescimento da carteira foi “forte e saudável”, já que os índices de inadimplência se mantiveram controlados no tri.
O NPL de 15 a 90 dias caiu 10 basis points para 4,2%, enquanto o NPL de 90 dias subiu 20 basis points para 6,1%.
“Eles estão basicamente estáveis, mas olhando para frente não estamos assumindo que as curvas de NPL vão cair com a melhora do Brasil e do ciclo macro, porque queremos continuar com um ritmo de crescimento forte da carteira,” disse Lago. “E não temos problema com isso. Não estamos no negócio de minimizar a inadimplência, mas sim no negócio de maximizar a margem líquida ajustada por risco.”
As provisões aumentaram no trimestre, em cerca de US$ 310 milhões, mas praticamente todo esse aumento veio do crescimento da carteira e não da piora do portfólio, segundo o CFO.
A receita líquida do Nubank foi de US$ 2,1 bilhões no trimestre, um crescimento de 10% na comparação sequencial. O banco digital adicionou mais de 5,5 milhões de novos clientes, chegando a 90 milhões, e atingiu um índice de ativação de 83%.
O resultado vem num momento em que o Nubank está expandindo seu portfólio de produtos no Brasil. No primeiro tri, o banco lançou o consignado para funcionários públicos; no terceiro, o empréstimo com garantia do FGTS; e no mês passado, o consignado para pensionistas do INSS.
Lago disse que ainda é muito cedo para falar desses produtos, mas que eles estão tendo um “ritmo super animador de adesão e crescimento.”
“Acho que o crédito com garantia pode ter uma representatividade enorme na nossa carteira de crédito no médio e longo prazo,” disse ele, lembrando que 70% de todo profit pool de crédito do Brasil está em consumer finance — dividido um terço em cartão de crédito, um terço crédito pessoal sem garantia e um terço crédito pessoal com garantia.
“Se parássemos de crescer a base, nossos clientes já representam 40% de toda a carteira de crédito consignado do Brasil. Então daria para crescer só dentro de casa,” disse Lago.
O Nubank tem apostado no preço para atrair os clientes: o consignado INSS foi lançado com taxa média de 1,3%, abaixo do mercado. Isso é possível porque o banco tem a vantagem de não usar os representantes bancários, que cobram de 15% a 20% de comissão, e ter um custo menor que o dos bancões. “Repassamos essas vantagens para o consumidor,” disse o CFO.