A Nova Transportadora do Sudeste (NTS) – que transporta metade de todo o gás natural do Brasil – planeja investir R$ 12 bilhões nos próximos oito anos na monetização do gás do pré-sal e na estocagem de gás natural liquefeito (GNL).
Vendida em 2017 dentro do programa de desinvestimentos da Petrobras, a NTS pertence a um consórcio liderado pela Brookfield e que incluiu os fundos CIC, da China; GIC, de Cingapura; e British Columbia, do Canadá. O consórcio tem 91,5% da empresa; os 8,5% estão com a Itaúsa.
A companhia está no coração industrial do País: sua malha de gasodutos liga os estados do Rio de Janeiro, Minas Gerais e São Paulo ao gasoduto Bolívia-Brasil, ao gasoduto da TAG, aos terminais de GNL e a plantas de processamento de gás. A empresa faturou R$ 5,7 bilhões ano passado.
Desenhar o plano de investimentos foi a primeira tarefa de Erick Portela, um executivo com mais de 20 anos de Petrobras que assumiu como CEO da NTS em janeiro, depois de ocupar o mesmo cargo na TBG (Transportadora Brasileira do Gasoduto Bolívia-Brasil). Erick substituiu Wong Loon, hoje no conselho da NTS.
Ao traçar o plano de capex, a empresa considerou o balanço da oferta e demanda de gás nos próximos 5 e 10 anos e se perguntou se seria possível continuar “atendendo energeticamente” as regiões onde está hoje, o CEO disse ao Brazil Journal.
“A resposta foi ‘não’, porque naturalmente as fontes de gás se esgotam,” disse ele, referindo-se ao que está acontecendo com as fontes de gás vindo do Campo de Mexilhão e da Bolívia, que há décadas abastecem o Brasil.
Na avaliação da NTS, essas fontes em tese poderão ser substituídas pelo gás do pré-sal e pelo GNL, onde a empresa está concentrando seus investimentos, mas a partir de análises distintas.
A principal aposta da NTS é no pré-sal. A empresa vai reforçar sua malha para viabilizar a monetização do gás nos projetos que já existem hoje. “Estamos falando inicialmente numa estação de compressão em Japeri, no Rio; e também na duplicação do trecho Campinas-Rio,” disse Erick.
Esses projetos, segundo o CEO, vão manter uma solução logística para substituir as fontes que estão acabando pelo produto nacional. “Se temos gás aqui, não faz sentido importar.”
Apesar de o GNL também poder ser utilizado na substituição do gás que está rareando, a NTS avalia que “o mais inteligente” seria mantê-lo no papel principal que ele tem hoje, que é o atendimento do despacho termelétrico.
Como hoje esse é o uso principal do GNL, ele disse, não existe uma estrutura gigantesca de dutos e terminais standby “esperando o setor elétrico chamar” e o abastecimento é feito por navios.
“Achamos que não faz sentido aumentar a dependência do GNL além desse modelo, para o atendimento à indústria e residências. Isso não seria inteligente nos tempos atuais em que o mundo inteiro está buscando GNL para abastecer a Europa por conta da questão com a Rússia, uma situação que entendemos que vai perdurar um pouco”, disse.
Ao mesmo tempo, a NTS entende que as termelétricas precisam de mais velocidade no atendimento, já que o setor elétrico depende dessas usinas para estabilizar a intermitência das renováveis e ao mesmo tempo manter os reservatórios.
Por conta disso, incluiu no plano um “estoque de GNL” no Rio de Janeiro: “Será uma esfera de estocagem criogênica, não subterrânea. Vamos conseguir oferecer uma resposta rápida, que será um grande upgrade para a logística do setor elétrico e do GNL.”
Segundo o CEO, a NTS tem recursos e capacidade de alavancagem para colocar o plano de pé – ele não detalhou a estrutura financeira – e vai aguardar apenas a aprovação do plano pela ANP.