TERESÓPOLIS, Rio de Janeiro – Marcelo Maturano nunca se conformou com o “complexo de vira-lata” do brasileiro.

Empresário de sucesso na incorporação imobiliária, ele e sua filha Manuela decidiram desenvolver aqui nesta cidade da Serra Fluminense um projeto vitivinícola, turístico, gastronômico e imobiliário de padrão internacional, que fizesse inveja aos países vizinhos.

Surgiu então a recém-inaugurada Vinícola Maturano, que já começa com 29 hectares de videiras de Syrah, Cabernet Franc, Sauvignon Blanc, Malbec, Merlot, Chardonnay e mais 11 variedades, e a ambição de produzir 320 mil garrafas/ano a partir de 2032.

“Estamos a pouco mais de 100km do Aeroporto do Galeão e temos potencial para atrair um público internacional e aumentar ainda mais o valor do Rio de Janeiro como destino turístico,” Marcelo disse ao Brazil Journal.

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O complexo da Maturano tem 202 hectares. Até 2028, vai abrigar um hotel com 61 quartos, sendo 13 lofts à beira do rio e 48 conectados à vinícola.

O restaurante, Origens, já está aberto, bem como uma parrilla e um wine bar com vista para a impressionante montanha conhecida como Torres de Bonsucesso. O heliponto também está pronto, com serviço de hangaragem para até cinco helicópteros.

O condomínio da vinícola tem 206 terrenos, com área de lazer de 14 mil metros quadrados, incluindo quadras de tênis e beach tênis, duas áreas gourmets e piscina, entre outros itens.

“Apesar de toda essa estrutura, a Maturano é um projeto eminentemente vinícola. Visitei mais de 200 produtores em todo mundo nos últimos 20 anos, e meu objetivo aqui é fazer vinhos de alta qualidade,” disse o empresário. “É um projeto de vida para mim e a minha família.”

A ideia da Maturano surgiu quando Marcelo vivia nos Estados Unidos e começou a escutar sobre o potencial de produção de vinhos de inverno no Brasil, usando a técnica da dupla poda.

É uma técnica desenvolvida pelo engenheiro agrônomo e pesquisador da Epamig, Murillo de Albuquerque Regina, no início dos anos 2000. O objetivo era adaptar a produção de uvas viníferas às condições climáticas do Sudeste brasileiro, permitindo a colheita de uvas no inverno. A tecnologia gerou uma revolução que estimulou o surgimento de dezenas de vinícolas em vários estados, principalmente Minas, São Paulo e, mais recentemente, no Rio de Janeiro.

“Minha família é de Teresópolis, e identifiquei essa área numa região privilegiada na estrada entre o município e Nova Friburgo,” disse Marcelo. “Comecei a estudar o terreno e os índices pluviométricos em 2018, e dois anos depois comprei a terra.”

O solo da vinícola é franco argiloso (ideal para a maioria das plantas por reter nutrientes e água), com traços de granito e quartzo, e os vinhedos ficam em altitudes entre 850 e 1.070 metros. Um dado importante para produção de vinhos de qualidade: a variação térmica média da região é 20°C entre dia e noite. A primeira safra inclui tintos de Cabernet Franc e Syrah, um blend rosé dessas duas uvas, e um branco feito de Sauvignon Blanc.

A estrutura industrial da Maturano também é de ponta, e inclui 63 tanques de inox para fermentação e afinamento, equipamento de desengace por vibração e prensa pneumática da marca Pellenc, e uma bomba peristáltica italiana que evita rompimento das cascas. Tudo sob o comando da enóloga Mônica Rossetti e do consultor agronômico Frederico Novelli, da consultoria Floeno.

“Nossa proposta é oferecer uma experiência completa: desde o cultivo cuidadoso das uvas até a celebração dos bons encontros em torno do vinho. É um lugar que nasceu para valorizar a cultura, a gastronomia e o turismo da região,” disse Manuela.

Quem visita a vinícola passa a compartilhar imediatamente o sonho da família. O primeiro impacto é a arquitetura inovadora do complexo, situado num cume em meio às montanhas de Teresópolis.

Depois é fácil se encantar com o olhar para o detalhe e a paixão com que Manuela e Marcelo se dedicam à Maturano. Os vinhos, provados diretamente dos tanques, reforçam o potencial da técnica da dupla poda, com destaque para um promissor varietal de Cabernet Franc. 

Guardada pelas imponentes montanhas ao redor, a Maturano é um símbolo de uma nova indústria que se consolida no Sudeste e ainda dará muito o que falar no mundo do vinho.

Flávio Ribeiro de Castro ama comer e beber bem.

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